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sexta-feira, 28 de maio de 2021

Trecho de "O Alienista", de Machado de Assis

 Olá, graduandíssimos

Que tal um trechinho de “O Alienista” para terminar a semana?!
Confere aí!

E tem mais: se quiser nos enviar um trecho de um livro de que goste é só nos mandar aqui, via direct, ou por e-mail: revistagraduando@gmail.com


Bom final de semana!

Acesse nossas mídias!

    

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

F.

Por Evair Teixeira e Silva*


No Brasil nunca roubei, não é na gringa que vou fazer isso. Esse povo estranho, frio, não fala comigo direito, aquele prédio de gente estranha, parece que colocaram todos os pobres juntos, até branco pobre tem. A fome bate cada vez mais forte. Estou cansado de comer todo dia a mesma coisa. Baguette, só tem nome chic, só tem casca, não dá para sustentar. Em que cilada fui me meter. Frio e fome. Nunca roubei lá, aqui não vou fazer. O iogurte e a pizza estavam ótimos, ninguém suspeitava de mim. Faz tempo. A geladeira é comunitária. Ainda bem, senão teriam desconfiado mais cedo. Eles sempre pensam que são os africanos roubando. Sou eu! Mas não dá mais. Preciso de feijão, preciso de carne, mesmo que seja aquela porcaria enlatada cheia de sal. Todo mundo rouba nesse supermercado mesmo. É chic no meu país, mas aqui é coisa de fudido mesmo. O pior é que tem sempre vários vigias. Nunca roubei! Vai ser só uma lata. Eles já me olhavam com suspeita mesmo. Mas se me pegarem? Já fiz escândalo uma vez lá, por me pararem, acho que não teriam a coragem de me parar novamente. Eles me olham com desconfiança sempre. Sempre. Nunca roubei lá, não é na gringa que vou fazer. Quanto frio. Fome e frio. Dedos doendo. A calefação do prédio é tão fraca, que dá no mesmo aqui ou lá dentro, não seca nem uma meia. Fome, esse estômago que não para de reclamar. Não foi esse país que me venderam. E se me pegarem? Já estou aqui em frente há tempos. Se ficar mais, eles vão desconfiar. Vamos lá, é hora de… não sei... Seja o que Deus quiser.


* Evair Teixeira e Silva nasceu em Muritiba, no recôncavo baiano, mudou-se para Feira de Santana para cursar Letras com Francês na UEFS. Atualmente desenvolve projetos e pesquisas  nas áreas  ligadas ao ensino-aprendizagem de línguas, cinema e literatura com enfoque nas questões étnico-raciais.

segunda-feira, 17 de junho de 2019

9: A CULPA É NOSSA!


Por Marcelo Oliveira da Silva*


Eram 9 também, mas era quinta, ou era sexta, não sei, já era mais de nove. Era outro mês também, era outro tempo. Era paz, quando eu declarei guerra, ainda pedi socorro, fui ouvido, mas a paz era conflito. Era manso, o coração. O olhar era tenso, era canhão em estado de festa. Olhares, subliminares. Toques, escanteios. Trêmulos lábios. Saiam! Saíram, cruzaram ruas e vielas, e nas entranhas das ladeiras eram correntezas de palavras vãs autodeclaradas futuras, construtivas e visionárias. Estávamos acompanhados de versos e experiências que nos levavam a ladeiras e desejos de intensos mais. Eram 9, acabara o primeiro ato de uma história finda.

Ouvimos, ouvi juras de carinho. Não eram juras, não as ouvi, quis escutá-las, as criei. Não era amor. Era. Era amor univalente, unilateral. Era passagem de ida, não tinha retorno. Eram mudanças. Em nove horas, nove mudanças: não estar mais onde estivemos e reaprender que momentos são únicos e não serão eternizados... opa, eram 9. Pois sete faltam, mas também noves fora é nada, e nada resultou.
Passaram dias, 9 precisamente, vivemos de promessas, outro encontro, antes das 9, quebramos o protocolo, mas fizemos melhor do que antes, fizemos diferentes, havíamos aprendido, queríamos mais, mas só mais naquele instante, um queria outros mais, outro um menos. Fomos nos distanciando. Espera, já somos distantes, viemos de outros mundos. Um terceiro momento, agora sim, eram 9, minutos de prazer, protocolo quebrado, não quiseram mais que estivéssemos, não queria, quero, quer, não quer. Quero! Não quero! Não queres, não tens!

Pedimos encontros, negados, nove no total, rompemos elos e elos não foram restabelecidos, talvez não serão, ou são. Fora um sonho, nove no total. Mas não foi culpa minha, eu apenas disse que queria e você não ouviu. Ouviu. A culpa é nossa, você dissera primeiro e eu não ouvi. Ouvi. Ei, eu falei primeiro, você que não ouviu. Ouviu. A culpa é nossa, falamos mansos, não fomos ousados. Fomos. Fui, vc não! Sim, a culpa é minha, fui intenso, você foi muito e depois menos, eu fui mais, quis mais, sou mais. Mas fui menos, menos que pude ser, menos que pude esconder, não escondi. Está aí minha culpa, nove vezes ter dito o que quis, está aí minha culpa, ser verdadeiro, honesto comigo, logo, com você. Você, aquele espelho do primeiro encontro após as nove, nove vezes te encarei e tentei não tocar teus lábios, tocamos. Está aí nosso erro, nossa culpa. Sim, nossa! Fomos nós. Agora são 9, já é domingo, não tem festa. Não subiremos ladeira alguma, não há palavras, não há olhares, não há lábios nem promessas não ditas. Cumpra-se. São 9, chegamos aqui. A culpa é minha, cheguei. A culpa é sua, não veio. A culpa é nossa, não fomos. São 9, nove somos. Noves fora, nada.


* Marcelo Oliveira da Silva é Licenciado em Letras Vernáculas pela UEFS.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

SEPTIMUS

Por Rammon Freitas*


“Septimus, please come back! Septimus, please!” Septimus was running while his mother yelled at him so he swayed on the spot and stood there for a while, he wanted to take a last look at the farm, the pond and his mother who at that moment looked desperate. He ran towards the hill, whence he would head north after swimming across the river. On him, he just had a backpack with some money he saved, a book, some clothes, bread, biscuits, water and his cellphone just in case. There was no chance that his father would keep up with him, once on the other side of the river, he could not imagine a limit, and his legs would guide him. His journey started more like a sauntering practice. Septimus used to saunter a great deal; it was his favorite activity to fill the time. Walking helped him think, he would put his whole life into perspective, and now, more than ever, it felt as though it was the most appropriate thing to do.

Septimus cast his mind around and it landed on the reason why he was fleeing. He could not turn off the memory of his mother asking him: “You didn’t do it, did you? You’re not lying to me, eh?” He could see her face while recollecting that moment, he could feel her angst, her hate. She looked exceedingly angry and disappointed; Septimus had never seen his mother like that before. Inly, though, Septimus could not feel more at fault, he knew he could not help lying to her. What else would he do? He loved her, but fear was a feeling that he could not shun, she was his mother, someone he loved the most in the whole world, someone he innately cared for and worried about, he did not want to make her that disappointed. That severe look, though, was scaring his soul out of him, that look on her face whilst inquiring whether he was in the wrong or not made him feel so ashamed. Septimus was conscious of what he had done, and he did not feel it was wrong whatsoever. He stopped for a brief moment, sipped his water, looked around and decided randomly what direction to head and kept on. 

A sennight had passed, he was still on the run. On the third day, he felt like turning his phone on, he was in the woods, not lost for the record, and his phone happened to have service. It was bombarded with messages from home, suddenly it was ringing, his mother was calling him. He took the call. His mother implored, sobbing, him to come back home. She told him he would suffer no reprisal from his father, he would be alright, and the whole family would be fine again. Septimus felt sorry for her, it must be painful to lose a son like this. Howbeit, he could not go back, he feared everyone back at home, even his siblings. They would never understand it, the Bible had educated them all well, and thus heading back home was a no go. He was unwilling to face the consequences of his returning. What would everyone think of him? Frequently lost in his musings, Septimus indeed considered the idea of changing; of starting off of a new page; of converting himself to whatever they believed would be the right and apt. 

After two weeks sleeping in the woods, feeding on fruits and drinking fresh water from ponds, he really thought of going to the biggest city near him. He did not know what he would do there, he was young after all, in the middle of high school, an underage, what was he able to do? He just knew for sure that he did not want and could not be found by his family, despite the thick bond that made him connect to them; he had to let it go. So he started to think of illegal and somewhat absurd ways of making a living. He forced away these weird thoughts ever and anon, they made the hair of his arms on end, what was he thinking? In limbo, he struggled on, meandering managing to find answers, trying to figure out what to do next.            

Thinking about the reason why he was fleeing was something that he himself dodged, or at least he made his mind dodge. To his eye it was not a crime, it was not wrong, it was not a sin. It was just who he was, in the deepest part of his spirit and flesh. He wondered how something so natural could be seen as something so despicable and worthy of hate and disgust. He just could not conceive it. He also happened to find out how his parents, and consequently, his siblings found out about it, although it did not matter back then. He wanted them to accept it, live with it, or maybe suck it, whatever felt easier for them. 

Three weeks running away and he finally reached the road that could take him to one of the biggest cities in the state. He stopped here and there pondering whether or not it was wise to go towards the main road. Once there he had second thoughts, however. Hitchhiking was his only solution, but what if he ran into a crazy driver who will come up with indecent proposals, the last thing he desired now was to be propositioned by a lunatic. There was this characteristic of his that consistently made him who he was: he was someone determined and a tad stubborn, if he made his mind on something, nobody else could change it, but himself. Going back home was utterly out of his possibilities. The thought of that action brought him a mix of angst, pain, shame, pity. He started to feel what he believed his family felt for him: he despised himself. 

The weather was sunbaking hot; lorries, cars, vans going to and fro as he stared at the road, as far as his sight could reach, until being able to see those waves apparently ablaze with that vapor on the asphalt, that vapor made out of pure warmth. Those waves trembled during the entire day on those exceedingly hot days of summer. And when the night eventually fell, it would make the nighttime’s calmness and darkness balanced with both the heat of the day that hit the tarred path, and the coolness of the night, coming from above. Septimus also thought of the dew on the next morning, and how he loved to see the breaking of dawn. Had he seen the dew and the sunrise, he would have felt that there was still hope, notwithstanding his determination made him set his heart and mind on another idea, a lorry was getting nearer and nearer, it was infeasible for it to break, so Septimus made to cross the road.

Finis


* Rammon Freitas é graduando em Letras com Inglês pela UEFS.

segunda-feira, 26 de março de 2018

THE PROPOSAL

Por Rammon Freitas*


It was a Tuesday afternoon when Fernando arrived in his hometown from overseas. His new house was more like a mansion, near the Presidente Dutra Avenue, an upscale neighborhood in Feira de Santana. He had gone abroad for a while, got his doctorate degree there and had made tons of money as the result of a lot of hard work. Now he was back in town. At first, he bought everything he thought he should, the mansion, a farm, two cars and a summerhouse in Madre de Deus to enjoy balmy days by the beach, and escaping from everyone and everything whenever he felt like. Howsoever, all of those things did not make him wake up with a certain gaiety in the morning; that, by the way, was a habit he never changed; he had always woken up early in the morning. First week in Feira and he could acquaint himself with the cool slang terms of the moment, he could catch up with his old friends and could have a nice time with his family that would treat him as a kingat that moment, but never was able to overcome his sexuality. At present, their speech was different, his cousins, aunts, uncles, sisters, brother would come up to him and say, “Youwon’t marry, right? Marriage brings lots of problems.”

His mother once had the audacity to say, “You don’t need a woman, my son, you already have everything you’ve ever wanted. You just need to donate a certain amount to church every month, and show up there whenever you feel like; you know that everybody there loves and looks up to you, eh?” Fernando knew very well what they used to love: money. So now, they would love him, because he possessed plenty of it. He started to think that money couldn’t buy everything, indeed. None of the stuff he had gotten was able to fill the void inside of him. After a while, he perceived the paradox: he was more alone than never, except for Sarah, his old friend that would check in with him every day. Deep down he knew what he was missing, and that was Diego. Fernando had heard that he was a Literature teacher in town, a good one, and was currently single. Fernando remembered when they split up for the last time before he left Brazil, Diego had said he wasn’t one for relationships, though casual or random relationships (whatever that might be) was more like his kind of thing.

The new life and routine was not hard to get used to. He just minded the weather, it was uncommonly hot in Feira de Santana and he just wished he could understand why. Some time went by in this new phase of his life and he continued to wake up chagrined early in the morning, there were days he wished he hadn’t woken up at all. So one of those days, when he woke up vexed, feeling an emotional mess inside, he decided to get ahold of Diego, he got his e-mail address from Sarah, since Diego had changed his phone number and e-mail address and he did not have any kind of social media anymore (he had become someone anti-social, come to that), it was hard to be in touch with him. Fernando then wrote a very explanatory e-mail, putting his heart out, telling him, amongst other things, that he was back in Feira and wished to see him immensely, he indeed had written the word immensely, and after sending the e-mail, he thought that that was a really bad word choice. The reply came within a few minutes; Fernando knew that Diego was still an e-mail person; he was the one who would know Diego better than anyone else would.

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They finally got the chance to meet up, it took place at Diego’s favorite restaurant, Los Pampas, and they conversed about life and the relationships they had during the last few years they were apart. Diego really seemed eager in seeing him, and it was mutual, because Fernando could not stop staring at him. After dinner, Fernando invited Diego to visit his place; it was near the restaurant anyway, it wouldn’t take too long. Diego said he had to work early next morning and that reminded Fernando of the proposal he wanted to make. Then, he let him know that there was a proposal coming up; however, he would tell him on one condition, provided he went to visit his place. Diego was curious and agreed, so they left the restaurant after splitting up the bill.

Once there, Fernando showed him all around, including his bedroom, which was aspecial place, and demanded a special occasion. Whilst showing Diego his bedroom, Fernando brought up the proposal again. Diego was all ears eyeing him warily; he went there on that account after all. Fernando told him that he wanted to buy him. “You’re gonna sell me your diploma, your job, your body, your soul, your mind, and your life. Putting it differently, you’re gonna be mine.” It seemed to have astounded Diego, and deep within he knew that what Fernando had said was true, he did not know why, but he knew it was true. Fernando was trembling, and could not disguise it, he’d realized that Diego was analyzing him, and inly he wished he could read his mind. Fernando thought that Diego might have found the whole thing a colossal craziness, completely mental.“I know that you’re not playing around with me, but honestly, I need some time to think about it, even though it sounds utterly mental to me.” After saying that, Diego left Fernando’s house and the latter felt as though a gargantuan wave had hit him, and now he was trying to get oriented again.

A week went by, no e-mail, no phone call, Fernando was waiting anxiously. After the second week he could not control his urges well respecting the response. He knew since the beginning, when the idea popped up in his mind, that it would be a tough call for Diego. Fernando would also think that that was the worst proposal he could ever come up with, it was indeed mental he would concord. The intention of the proposal was to possess Diego, as one of the other things he bought when he came back to Feira. Diego would not work anymore, would not visit his family, unless Fernando allowed him to do so, he would, in other words, belong to Fernando and live off his expanses. The time Fernando lived overseas brought him someone to love, a relationship that would have an expiry date he used to believe. Howbeit, he never truly loved this one man, it was positive and intense while it was transpiring, and Fernando believed that Diego was the one to whom his heart belonged. Fernando would also spend a long time awake during the night (when he wouldn’t sleep fitfully) thinking about how Diego was used to seeing the world. Fernando thought of how ephemeral things were; relationships in which people hook up with everybody and don’t get to know anyone for real. It was all about carnality, and that was the problem with the gay community Fernando would think: people treat each other like a piece of meat, it doesn’t apply to every situation, he’d admit, but still.Furthermore, Fernando was conscious that Diego was the one on that side of the game. Thusly, lost in his night’s musings, Fernando was aware that sex for sex was what Diego believed he was linked to. Having a nonstop sexual life with a bunch of different partners was what Diego used to do in the past after breaking up with Fernando.As to the dumpee, Fernando, he was determined and he would not give up on the Literature teacher.

A month and a half later Diego’s e-mail finally hit Fernando’s inbox. It read:


Dear Fernando, 

I hope this e-mail finds you well. I’m emailing you concerning your proposal. I’ll be blunt: I cannot be in this kind of relationship, because my love is not up for negotiation. What we lived was beautiful, it resulted in a great set of fond memories that I every so often go back to. I deeply wanted and tried to change myself, to be a monogamist, I wish I could change, although it is infeasible. I hope that that proposal of yours was your last attempt to have me.

Adieu, 

Diego.



Inwardly, Fernando thought that some things were not meant to be, and off he went.

Finis


* Rammon Freitas é graduando em Letras com Inglês pela UEFS.

terça-feira, 7 de novembro de 2017

ESCRITOS DE UMA PSICÓLOGA

Por Manuele Souza Costa*


Ainda sento no mesmo lugar onde sentávamos para falar sobre poesia, para sorrir lembrando aspectos da vida. Onde eu admirava seu sorriso enquanto você falava da beleza dos textos e inteligência dos escritores como algo mágico, com entusiasmo. Onde sugerimos um ao outro várias leituras, as quais faríamos o mais rápido possível só pra ter assunto para o próximo encontro e quando sentávamos para discutir esses e outros assuntos não víamos a hora passar, tão rapidamente entardecia, e parar ali era algo meio forçado para a gente. Poderíamos até demorar um pouco para se encontrar, mas quando acontecia era intenso, como sempre. A nossa amizade era assim, intensa, verdadeira, atenciosa. Era tão bom repartir pensamentos, concordar, discutir sobre cada tema.

Estou aqui. Já li todos os contos e ouvi todas as músicas recomendadas por você, só para ter assunto para a próxima conversa, que já há algum tempo não acontece mais. O amor também afasta, distancia as pessoas, mesmo estando tão juntas, próximas. Esta é a ideia que tenho desde que os corpos estão sempre perto, mas a alma, o essencial está distante, querendo fugir. Talvez porque o amor antes existente não era notado e agora sim, no entanto não é aceito, o que causa mudança, o afastamento.

Preferia que tudo voltasse a ser como era antes. Para mim, o ápice do amor estava ali, entre os dois, sentido e vivido por ambos, quando faziam um ao outro sorrir com entusiasmo, beleza e queriam sempre estar ali, perto um do outro. Para mim, isso representa o amor, essa vontade de sempre estar junto, e o ápice desse sentimento não é como muitos pensam, que são beijos e abraços, mas são sorrisos, admirações, confidências, confiança, vontade de sempre estar.

Hoje, não sento mais naquele lugar e o sinto cada vez mais longe, mesmo estando ao meu lado. O olhar parece querer correr, está sempre fugindo, demonstra medo. O sorriso já não é tão verdadeiro, mas continua belo. Às vezes nem me encara. Será mesmo que não aceita o sentimento ou isso tudo é medo? Parece tremer quando está ao meu lado. Decidi assumir minha impotência, não posso forçá- lo a sentir. Vou seguir me afastando.

Num domingo à tarde, sentada na poltrona da sala sozinha, sem ninguém nem seus pais, com todas as janelas fechadas, sem chorar nem sorrir ela diz: “Ali, aquela situação é o ápice do amor, é o momento que ela o sente mais forte, pois pensa, o deseja e escreve.”


Relato da última cliente, dia 27 de maio de 2017, às 17:00 horas. Segunda seção com a psicóloga Elisa Nascimento.


* Manuele Souza Costa cursa Especialização em Estudos Literários na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS).

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

O SONHO

Por Amanda de Almeida Santana*


Na cidade do Rio de Janeiro, habitava uma moça muito linda que chamava a atenção de todos por onde passava, seu nome era Larissa.

Larissa sempre andava só, pois era uma moça independente. Um dia o seu jeito de viver encantou a um rapaz que se chamava Caio.

A moça não sabia, mas ela sempre habitava os sonhos de Caio, sonhos que eram de tê-la ao seu lado para sempre, mas o rapaz tinha medo de falar para ela que estava apaixonado.

O rapaz levava uma vida humilde, mas era muito sonhador. Sonhava em ter um bom emprego, uma boa casa e viver ao lado de sua amada.

Um dia quando Larissa voltava de uma festa, Caio a abordou e pediu para acompanhá-la até sua casa. Durante o caminho, numa conversa envolvente, o rapaz declarou-se para ela com um belo poema, mas ela não disse nada. Enfim, ele foi beijá-la. Quando ele se aproximou, de repente, num sobressalto, ele despertou de mais um belo sonho de amor.


* Amanda de Almeida Santana é estudante de Letras Vernáculas do 4º semestre, UEFS.

sábado, 11 de março de 2017

COISAS DE MIM...

Por Edilene Barboza*


Sabe... Acabei de descobrir que... Faz dez anos que eu moro em um bairro onde vivi uma história de amor deslumbrante com o meu marido!... Sair! Voltei! Sair! Voltei! Sair! Voltei! Foram muitas vezes que tentei ir embora deste lugar... Mas ainda não era a hora exata!... Então resolvi ficar. Mesmo o amaldiçoando, ele me aceitava de volta!... Alguma coisa ele queria de mim... Ou me mostrar... Me revelar... Sei lá!... Então resolvi ficar... Dar mais um tempinho por aqui... E fiquei... Voltei... Me separei!... Me divorciei!... E fiquei! Logo reencontrei um amigo... E fizemos uma louca viagem juntos... Aqui mesmo! Meu Deus! Que viagem!... Porém, sentia que ainda havia algo para acontecer, pois desde criança, tive a intuição de que moraria neste bairro... Foi aí que algo muito intenso aconteceu! Era isso! Será? Meu Pai! Não! De novo não!... Deve ter sido para isso que, depois de ter passado por experiências um tanto fantásticas, sofrido um bocado, aprendido a ser forte, envelhecido, finalmente ele resolveu aparecer... E, em uma bela tarde, morando sozinha, voltando para casa e bastante cansada... Na esquina da rua, Ele! Ele resolve aparecer! E me revelar o que esse lugar tinha guardado de melhor para mim!... O Meu Amor Maior! Agora sim! Posso ir embora daqui...


*Edilene Barboza é graduanda em Letras com Francês da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS).

segunda-feira, 11 de julho de 2016

PRISÃO E LIBERDADE

Por Josenilce Barreto*


Era 08 de junho. Dia ensolarado num lugar em que ela nunca havia estado. Era um dia comum do calendário, sem nada especial a ser lembrado ou comemorado, mas jamais seria esquecido por ela.

Estava em Paris, caminhando pela cidade: Torre Eiffel, Musée d'Orsay, Museu do Louvre, Catedral de Notre-Dame, Jardim de Luxemburgo, Basílica de Sacré-Coeur .... e por fim a Pont des Arts. Nesta, ela vê um muro de cadeados presos por correntes ou seria a separação entre o antes e o depois dos casais apaixonados que passaram por ali? Na verdade, apenas mais um lugar para se conhecer...

Aproximou-se. Viu muita gente exalando AMOR. Sim, o amor tem perfume e ainda mais em Paris, ora!

Não resistiu. Atreveu-se e tocou em um dos cadeados (já que não levara o seu próprio!). No toque, sentiu... Era como se a história daquele cadeado também fosse a sua e, como tal, soube que o amor ali estava acorrentado.
 – Mas como podem prender o amor? – pensou em voz alta – Se dizem que ele deve ser livre?

Durante os 30 segundos em que tocou o cadeado, soube de uma coisa: não permitiria que o SEU AMOR fosse preso, acorrentado, esmagado em um cadeado. Nisto, sentiu que precisava sair logo dali antes que o prendessem, sem chance de fiança.

Correu, correu, correu... cansou, parou, olhou... Eufórica, se assustou, se levantou da cama, foi ao banheiro, lavou o rosto, olhou-se no espelho e decidiu-se:
- AMOR é LIBERDADE! E como tal não permitirei que os tirem de mim!
Então foi em direção à janela. Abriu-a. A brisa entrou. A liberdade e a razão também. E todas juntas decidiram que o amor só entraria novamente se não acorrentasse o ser e a liberdade.

Era 08 de junho, dia em que a ponte desabou e os cadeados foram quebrados...


* Josenilce Barreto é graduada em Letras Vernáculas e mestra em Estudos Linguísticos pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), além de lecionar na mesma instituição. Também integra o conselho editorial da Graduando.

segunda-feira, 20 de junho de 2016

SENTIDOS

Por Josenilce Barreto*


Via flashes! Via fotografias! Via sonhos! Via utopias! Quanta opacidade nessa miragem!

Olha. Não vê! Toca. Não sente! Cheira. Qual cheiro? Bebe. Não sente o gosto! Ouve. Não sabe quem!

Quantas ilusões! Como podem os seus sentidos lhe traírem assim?

Olha no espelho e não se reconhece: Quem é este ser pálido, enrugado, desorientado e preso no reflexo diante de si? O que fizeram com ela? Simples, arrancaram-lhe a vida! E sem esta, que sentido há em estar ali?

Grita. Ninguém lhe ouve! Escorrega. Ninguém lhe segura! Cai. Ninguém lhe levanta! Tenta fugir de si. Ninguém lhe ajuda!

Que vida é esta em que ninguém lhe vê, lhe toca, lhe cheira, lhe saboreia, lhe ouve, lhe AMA? Qual o sentido nisso tudo? Velha, quase cega, quase surda, quase muda, trêmula e agora já desconhece os sabores da vida... Restaram-lhe apenas os dissabores que regam os seus recentes, últimos dias.

De repente, a imagem no espelho se dissipou. Ela saiu do banheiro. Voltou à sua gastada poltrona. Pegou o seu pincel, tintas e tela. Finalizou a pintura. Viu, diante de si, um autorretrato: uma mulher velha, quase cega, quase surda, quase muda, trêmula e que desconhece os sabores da vida.

Eram 21:00 e o sino tocou: “Hora de velho ir dormir”, diziam os mais jovens. A luz apagou e o asilo dormiu.


* Josenilce Barreto é graduada em Letras Vernáculas e mestra em Estudos Linguísticos pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), além de lecionar na mesma instituição. Também integra o conselho editorial da Graduando.

sexta-feira, 3 de junho de 2016

CONTAGEM

Por Josenilce Barreto*


Ela tinha um, dois ou talvez três ou quem sabe quatro... a quantidade pouco importa, desde que o que ela tenha seja suficientemente completo.

Todos os dias, ela se levanta de sua cama, pensa em como poderá ser seu dia, então toma um café e começa a chover. E no barulho da chuva, fervilham-lhe os pensamentos ou seriam as inquietações? Quem sabe...

O saber parece pertencer a alguém, mas e se ela nem soubesse que pertencia ao saber e não o contrário? Bem, são apenas possibilidades...

Ela, assim como outros, pensa que sabe, mas, como já dito, o saber é quem nos pertence!

Então ela vai contando, a cada dia, os livros que encontra perdidos em sua estante. E nessa conta lá se vão um, dois, três ou quem sabe quatro histórias perdidas... quer dizer, esquecidas! Esse esquecimento não completa o saber, pois este vai-se completando, completando, completando... à medida que vai tomando para si alguém... E ela, ciente de seu pertencimento ao saber, não lhe ousa deixar. 

Deixar, esquecer, perder... são verbos que não lhe pertencem. À ela são compatíveis o aprender, o escrever, o pensar, o saber, o amar, o pertencer ao conhecimento.

A chuva se foi, os pensamentos também. O livro foi fechado, as histórias ficaram jogadas novamente na estante. E de novo o tempo parou, o barulho no telhado cessou e em outro dia chuvoso, talvez ela volte a contar um, dois ou talvez três ou quem sabe quatro livros lançados na estante...


* Josenilce Barreto é graduada em Letras Vernáculas e mestra em Estudos Linguísticos pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), além de lecionar na mesma instituição. Também integra o conselho editorial da Graduando.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

ANOS SECOS

* Por Maria Rosane Vale Noronha Desidério


Queixando-se de mal estar, dona Evangelina deixou o velho corpo enrugado descansar entre as pedras do rio Puiú. E, avistou ao longe a arribada de passarinhos procurando água nas cacimbas. Tempo perdido! As cacimbas minguavam depressa debaixo daquele sol de novembro. Tudo havia minguado. O resto de água que a seca não carregou, estava protegido dessas aves, de todas as aves.

Dona Evangelina tinha essa mania de quando ia buscar água nas cacimbas do velho Puiú, deixar-se ali, meio que abandonada por si mesma para admirar o entorno. Usava esse tempo para fugir dos desesperos caseiros. Deixava-se embalar pelos pensamentos fugidios e pelo silêncio do mato. Um silêncio quebrado unicamente pela arribada de aves e pelos bichos entoando seus lamentos de sede.

Mas, ela se recordava que o sertão nem sempre foi assim. Nem sempre houve sede coletiva e compartilhada entre bichos e homens, nem sempre as plantações se perdiam, minguadas pela secura do solo ou a invasão da lagarta. Houve tempos em que o sertão era um paraíso farto e alegre. Um tempo bom em que o céu se vestia de cinza e derramava água à vontade. Era bonito ver os meninos aos pulos se banhando nas bicas ou se enlameando nas poças de água. A lua escondida e o sol intimidado admirando as nuvens carregadas. Nada podia se comparar à felicidade das chuvas, o povo colhendo feijão, milho, melancia, as mulheres e os meninos aos pés do fogão à lenha, assando espigas fornidas na brasa. Uma beleza!

Mas agora, a terra amargava três longos anos de seca, e o velho rio só possuía cacimbas de água barrenta e salobra, e o açude da vizinhança, tão grande e cheio de peixes, amargava uma morte apressada. Era triste avistar ao longe aquela imensidão de peixe morto às margens, cada vez mais encurtadas, do açude. Dona Evangelina sentia aquela tristeza arrebatar suas forças. E o sol parecia ter baixado sobre a cabeça do povo. Os sertanejos pareciam esquecidos.

Dona Evangelina estava ali, pensando nos tempos fartos, nas alegrias aos pés da trempe onde os meninos assavam milho verde. Agora as roças estavam desertas e a comida minguava. Perguntava-se diariamente porque o sertão era tão esquecido e seco. ­­­­­Era seco por gosto de Deus? Achava que não. O sertão tinha jeito, tinha sim. Faltava era o querer de quem podia fazer. O sertão era esquecido porque os homens do poder só visitavam os sertanejos em prazos de dois anos. Vinham sempre alegres, cheios de boas ideias e palavras bonitas. Dava gosto de ver. Depois se escafediam, evaporavam como fumaça. Era sempre igual. E os sertanejos minguavam ou arribavam-se para as cidades. Perdiam-se naquela imensidão. E, em sua maioria, permaneciam esquecidos. Poucos voltavam.

Dona Evangelina lamentava essa necessidade que tinham muitos sertanejos de despregar-se de seu chão e desaprender a lidar com a terra para aventurar-se em chão alheio. Aquilo era uma violência. Muitos morriam por dentro. Outros morriam de todo. Não voltavam.

Se os filhos quisessem ir embora, ela teria que deixar. Tinha medo disso, mas sentia que não tardaria a acontecer. Quase todos os filhos do sertão estavam fazendo isso — indo embora. O sertão estava secando por dentro. E o sertão era tão bonito! Mas os novatos tinham medo da seca, queriam outros caminhos, outros destinos. Se tivesse boa vontade dos homens do poder o sertão não careceria ter medo dos anos secos.  E ela não careceria ter medo de ver os filhos se enveredarem pela estrada do sul.

Agora avistava aquela arribada de aves. Logo elas iriam embora também,procurar água em outros rios. E ela voltaria para casa com o balde repleto de água salobra para encher os potes, enquanto ainda houvesse água salobra. Enquanto ainda houvesse...


* Maria Rosane Vale Noronha Desidério é aluna do 5º semestre do curso Letras Vernáculas pela Uefs.

sexta-feira, 28 de março de 2014

O INDIGENTE

* Por Maria Rosane Vale Noronha Desidério


Era já quase onze horas da noite, quando um homem de roupas amarrotadas e sujas atravessou a praça principal da cidade. Trazia nas costas um saco aparentemente pesado. Nos olhos havia um certo mistério e resignação.

Esse homem singular tinha nome, é claro, chamava-se Manuel Deodoro Rabelo, mas habituou-se desde pequeno a ser chamado de Maneco, embora, há tempos, tal nome já lhe soasse distante.
Pra quê tanto nome? Dizia ele para si mesmo. Se nem o reconheciam por este nome quanto mais pelo outro, que nem parecia ele? E, de fato, Maneco tinha razão, já que todas as noites ele atravessava a praça principal da cidade para recolher-se no banco que havia debaixo de um juazeiro há mais de dez anos, e quase ninguém o chamava de Maneco. E, quando recebia a “honra” de ser notado, embora fosse raro, era chamado de o mendigo da praça, apenas isso.

Maneco reconhecia sua invisibilidade face aos habitantes da cidade. Muitas foram as manhãs que remexia no lixo à procura de comida e, embora todos o vissem, raramente havia um indivíduo que o agraciasse com um bocado de pão ou ainda, quando a sorte era muita, um copo de leite ou água para ajudar a engolir o pão dormido que recebia.

Mas, o que o entristecia mesmo nem era o fato de quase ninguém notar sua existência, mas sim quando duvidavam de sua honestidade. Era pobre sim, pensava ele, mas era honesto, e isso era a única coisa que lhe restara, sua honestidade.

Geralmente Maneco travava longas conversas consigo mesmo. Isso denotava sua completa invisibilidade em face àquela sociedade tão apressada e indiferente. Ele até desejava estabelecer contato, mas sua aparência causava demasiada desconfiança, desprezo até.

Os longos anos passados na rua corroeram aos poucos a saúde do pobre homem. A pele precocemente envelhecida pelo sol, os pés profundamente rachados e as mãos ressequidas eram apenas detalhes ínfimos diante das graves lesões que as constantes infecções respiratórias causaram em seu pulmão ou das úlceras estomacais adquiridas durantes as longas horas de fome. A ausência de saúde de Maneco denunciava seu futuro, ou melhor dizendo, a inexistência de qualquer perspetiva de futuro.
O desfecho da história se deu como sua existência até então. Sem causar alarde. Foi em um dia gelado de uma quinta feira junina. Neste dia, ele seguiu sua velha rotina. E ao fim do dia, recolheu-se em seu velho banco da praça que, não por acaso, considerava como seu lar, ou pelo menos algo parecido. Maneco adormeceu olhando para o céu, buscando entre as nuvens a presença da lua, que escondera-se por detrás do nevoeiro. Porém, nunca mais acordou. A noite foi fria, muito fria. Talvez a mais fria noite que Maneco passou na rua. Pela manhã tudo estava igual. As ruas apressadas, as buzinas irritantes, gente andando pra lá e pra cá. Tudo igual a todos os dias de semana.

O corpo de Maneco foi encontrado pela guarda municipal e enterrado em uma cova rasa para indigentes, sem placa, sem nome, sem nada. Uma história, uma vida, um passado. Nada. Tudo se perdera.

A cidade adormeceu, amanheceu e ninguém notou sua ausência.

* Maria Rosane Vale Noronha Desidério é estudante do curso de Letras Vernáculas na Uefs.

sexta-feira, 21 de março de 2014

UM SIMPLES CONTO

* Por Kell Ferreira


E foi de repente que tudo começou.

Era uma segunda feira, 26 de agosto de um ano qualquer.

O dia estava lindo, iluminado, parecia um dia normal como os outros. Ela mal havia acordado e já estava atrasada, olhou para o relógio e tomou um susto, de imediato levantou, tomou um banho rápido e vestiu a primeira roupa que achara, nem tomou café e saiu em disparada para pegar o ônibus.

Durante sua caminhada até o ponto ela pensava em como seria essa nova fase de sua vida. Ainda preocupada com seu atraso colocou seu fone de ouvido na tentativa de se distrair e, ao som de Sarah Mclachlan (Fallen live), por minutos se esquecera de tudo e todos à sua volta e pôs-se a viajar em seus pensamentos.

Ela não olhava nos olhos das pessoas, era alguém desligada que só queria seguir seu destino sem cruzar o caminho de outras pessoas (mal sabia ela o que o destino lhe havia reservado).

De repente ela se deu conta de que já havia chegado ao seu destino e apressadamente desceu do ônibus. Ao longe se aproximava um alguém de camiseta branca, bermuda jeans, cabelo curto, para ela era apenas mais um alguém sem importância. À medida que essa pessoa se aproximava algo estranho se movia dentro dela. Sentia sensações estranhas jamais sentidas em outros tempos, ela já não era mais a mesma.

Quando, de súbito, olhos claros cruzaram com os seus olhos negros feito a noite, fazendo seu corpo estremecer, suas mãos começaram a suar, seu coração batia forte. Ela havia ficado atônita e sem entender o que estava a acontecer, do porquê aquele encontro a havia deixando assim.
Após aquele instante ela sentiu que sua vida jamais seria a mesma. 

Todas as manhãs ela descia naquele mesmo ponto e era como se seus olhos procurassem por esse alguém, ela vivia na ânsia de encontrar esses olhos claros outra vez, isso era estranho e ao mesmo tempo intenso. Por coincidência ou destino esses olhares passaram a se cruzar outras vezes e ela sentia as mesmas sensações. Surgiam mais uma vez os mesmos questionamentos: porque olhei naqueles olhos que me perturbam? Que estranho.

O que o destino a reserva com esse encontro ela ainda não sabe, mas de uma coisa ela tem certeza, nenhum destino ou caminho se cruzam por acaso.


* Kell Ferreira cursa o 2º semestre de Letras Vernáculas na Uefs.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

CASAMENTO

* Por Jaciene Andrade

Na mão, eu tinha o papel já um tanto suado me indicando a casa apoiada no monte. Incorporada à paisagem, ela parecia se fazer de ramos, e pedras, e chuva, e ar. A carta? Ah, puro amor clareando o papel pardo primorosamente recortado... A caligrafia fina, levemente inclinada para a direita, deslizava vez ou outra sob as linhas marcadas a régua. No rodapé, um pequeno mapa artesanal com uma setinha indicava: “minha casa”. 

Havia anos que não nos encontrávamos. Amizade de infância. “Tenho tanta coisa pra te contar...” Disse-lhe que morava na mesma casa, que me visitasse. Eu, com minha cabeça nas nuvens. Ela, com a alegria de sempre, me prometeu que viria. Vi seu olhar úmido, arrebatador, transpiração enevoada de uma alegria urgente. Eu não a compreendia – nossa partilhada distância. Ela disse algumas palavras rápidas, que logo se embolaram com a nuvem de fumaça que se seguiu. O ônibus tinha se arrastado numa tosse rouca. 

Virei a página. Mas, um dia, a carta dela chegou. Escrevia me levando sutilmente pelas bainhas do assunto. Finalmente: iria se casar, e me convidava para uma cerimônia simples em sua casa, no Monte Alto. Por que ela vinha agora com aquele convite? Senti profundamente haver deixado o tempo escavar um penhasco entre nós. O tempo, certamente um injusto culpado de minhas injustiças. 

O estremecimento da culpa me fez partir, de carta nas mãos, rumo à casa do Monte. A passagem me despiu das capas de civilidade. O vento reordenara meu coque, os calos me fizeram retirar as sandálias. O suor, que manchava tímido a maquiagem, passou a brotar caudaloso. A vida anda por caminhos estreitos. Sentia antecipadamente a alegria do casamento, lembrança daquela parte de vida que ela havia deixado em mim, agora em ponto de renascimento.

Aproximava-me da casa e do pôr-do-sol. Rastro de flores. Vi a chama cambaleante de uma vela. Os convidados não teriam chegado ainda? Um violão silencioso guardava a frente da casa. O tempo virando chuva arrebatada. Comecei a ouvir conversa baixa. Um cheiro doce de café...  Que casamento diferente! Alguns laços brancos amarrados nas pilastras da casa. À medida que me aproximava, sentia a conversa se assemelhar a uma reza, uma ladainha... O vento se avolumando em rápidas gotas de chuva. Um móvel de madeira coberto parcialmente por um tecido branco. Foi quando desmoronei na certeza que não queria ter. Havia um caixão na sala.  

Ninguém ouviu meu grito, a não ser meu corpo paralisado. Aproximei-me do caixão, como quem não tem mais nada na vida. Ela, de véu e grinalda, perfeita noiva. Um soluço me lacerou o peito, ao tempo em que o conjunto de xícaras que trazia se estraçalhava miudamente no chão. Lá fora, um trovão ecoava, enquanto uma derradeira chama de sol insistia em não sair.

* Jaciene Andrade cursa Letras Vernáculas na UEFS.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Se eu não existisse...


Por Luciene de Queiroz Costa*

Não se sabe ao certo onde e quando ele nasceu.  Hoje eu apenas tenho uma certeza: que em seus primeiros dias de vida teve a mãe por perto para lhe dar o precioso alimento – leite materno. Nada mais! Não sei como vivia, ou se tinha irmãos, onde dormia, do que brincava, do que gostava... Negro, raquítico, grandes olhos, pernas compridas e finas.

Talvez por conta da sua aguçada curiosidade de criança, ele tenha resolvido, naquela tarde de verão, ir brincar nas ruas do bairro do Jardim Cruzeiro, sem sequer imaginar que o seu destino iria mudar completamente e para sempre.

Assim que chegou à calçada viu um objeto estranho parado perto de onde estava. Era gigante! Jamais havia visto tal coisa em sua breve vida. Era vermelho com tiras laterais pretas, possuía rodas e vidros que brilhavam a luz do sol. Um medo enorme tomou conta do seu pequenino ser. O que era aquela coisa? O que fazia aquela coisa? Aproximou-se e percebeu que o gigante estava imóvel. Resolveu investigar um pouco mais. Subiu nele, examinou cada detalhe, seu cheiro, sua cor e viu que aquela coisa, além de gigantesca, tinha esconderijos incríveis por dentro!  Era tudo muito novo, parecia um labirinto com várias entradas e saídas, maquinário estranho, cheiros fortes, ambiente quente. A excitação daquelas descobertas o fez esquecer-se do tempo que passava e da noite que se aproximava. Era tudo tão magnífico, tudo tão deliciosamente fascinante que nada mais importava...

A noite chegou e a escuridão tomou conta de tudo. Ele não conseguia ver nada em volta de si. Mas que importância isso tem? Afinal ele estava dentro do gigante e sentia-se orgulhoso de sua conquista! Foi tudo muito rápido quando começou a ouvir vozes e o gigante – agora acordado - passou a se mover. Seu medo cresceu dentro do peito e ele só teve chance de se agarrar para que não caísse ou fosse devorado por aquele barulho ensurdecedor! Deve ter gritado, pedido por socorro e se arrependido de ter entrado ali sem autorização. Tudo em vão. O gigante andava e balançava e ignorava aquela intrusa presença dentro de seu interior. Foram terríveis os minutos que se passaram até que o gigante parasse novamente em frente a uma casa verde. O pequenino estava em choque. Imóvel. Sua respiração estava ofegante. Sua voz mal conseguia pedir para ser escutada, mas ela foi ouvida em algum momento desse interminável percurso.

Enquanto ele tentava raciocinar e entender o que estava acontecendo, o gigante se abriu e ele pode enfim ver que estava num ambiente totalmente novo. Continuava em pânico. Um rapaz, um pouco mais velho que ele e tão raquítico quanto, o retirou de lá. Eles não se falaram. Nenhuma palavra foi dita. Ambos estavam assustados com aquele inusitado encontro. 

A dona da casa verde, que vivia em sua janela à espera ninguém sabe de quê, viu a cena. Não queria participar dela, apenas assisti-la como sempre fazia. Ela já tinha problemas demais, e ver a vida alheia correndo lá fora a fazia esquecer-se da sua inútil existência. Inacreditavelmente a vida dela também estava prestes a mudar naquele momento e para sempre quando o rapaz virou-se para ela e disse: “Moça, quer ficar com ele pra você? Se não quiser deixe-o na rua mesmo pois eu vim de longe, estou indo para a igreja e não posso levá-lo”.  Agora eram três os assustados – o rapaz, a dona de casa e o negrinho. “Com que direito este rapaz se dirige a mim? Como foi capaz de tamanha frieza ao perguntar tal coisa? Que espécie de ser humano é esse que age assim tão secamente? O que vou fazer com este ser indefeso?” Foram tantos sentimentos e dúvidas numa fração de segundos difícil de imaginar, mas ela, ainda atônita, acabou por acolher o pequeno.

A primeira coisa que fez foi oferecer um pouco de água e comida. Depois pensou o que faria com aquele ser feio, subnutrido e negro. É preciso que se diga que não era racismo, mas é que ela conhecia um pouco do mundo e sabia do preconceito que existe. Já era tarde, arrumou um cantinho pra ele dormir e esperou que como mágica aquele problema se resolvesse no novo dia que surgiria. Ela tinha medo, já havia enfrentado a família para poder acolher em sua casa outra vítima do abandono e achava que não seria capaz de fazer isso novamente.

O tempo foi passando... o pequenino foi se desenvolvendo, ganhando saúde corpo e beleza, conquistando a todos com suas gracinhas infantis. Recebeu o apelido carinhoso de “Estrupício”, mas ele nem parecia se importar com isso, afinal havia vencido o gigante e agora tinha uma família carinhosa, cuidados e mimos que muitos de sua raça jamais terão!

Estrupício hoje é o xodó da casa verde, muito carinhoso, doce, educado. Aquele gatinho feio e raquítico ficou no passado. Ele se transformou num lindo gato preto que, juntamente com sua dona, acolhe todos os outros que chegam perdidos e abandonados como ele um dia chegou!

A dona da casa verde hoje tem consciência de que sua vida não é inútil. Ela aprendeu que a vida é muito maior que uma janela e que sempre existirão gigantes para enfrentar! Aprendeu que vitórias e derrotas fazem parte da caminhada! E, se perguntarem a ela o que seria do século se ela não existisse, a resposta seria imediata: “do século eu não sei, mas sei que a vida de dezenas de felinos que ajudei não teria o mesmo final feliz que tiveram!”.


Luciene de Queiroz Costa é aluna do curso de Letras Vernáculas e moradora da Casa Verde desde 2006.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

A carta

Por Romário Sena*

Marina era uma menina jovem, inocente, meiga e cheia de sonhos. Vivia em um mundo diferente de todas as garotas de sua idade, não gostava do clichê que era ser garota. Ter que sempre ser comportada, sempre bem arrumada, sempre pintada. Ela gostava mesmo é de ser livre, viver de forma simples e confortável, mas sempre fora mal vista por tal comportamento.
Um dia na volta da escola viu um jovem rapaz, ele trabalhava em uma loja de CD's que acabara de ser inaugurada, ficou encantada com o rapaz, mas não sabia quem ele era.  Teve vontade de ir à loja de imediato, apenas para ter conhecimento de quem era ele, mas desistiu. Os dias que se seguiram ela continuou a observá-lo de longe, até que enfim tomou coragem e foi até à loja só para tentar um contato. Após a visita ficou ainda mais encantada com o olhar, o sorriso e o jeito daquele menino.
Pra sua surpresa, tudo veio a mudar, não de forma ruim, mas pra melhor. Ela chegou à escola e deparou-se com uma figura nova sentada na sala, havia poucos alunos na sala ainda e o professor ainda não havia chegado. O nome dele era Mike, e ela não sabia como se comportar agora com ele tão próximo e tão lindo. Então após alguns dias, eis que houve o primeiro contato, um professor fez uma atividade em dupla e eles por obra do destino ficaram juntos. Foi o contato inicial e mais importante para que ele e ela começassem a história mais linda já vivida na vida de ambos.
Tudo a partir daquele trabalho em dupla foi diferente pra ela e também pra ele. Tornaram-se cada dia mais próximos e cada vez mais ela se apaixonava por ele. E até que enfim o inevitável aconteceu, eles estavam saindo da loja onde ele trabalhava e por um descuido, ela desequilibrou-se e ele num movimento rápido e preciso a segurou e a aproximou tanto de seu corpo que aquele contato foi inexplicável; e então aconteceu, o beijo foi inevitável e aquele momento singular parecia ser eterno. Abraçados, próximos, um desejando ao outro. Então, a partir daquele beijo, o que ela já sabia aflorou-se também nele. O amor se escancarou naquelas almas jovens e tão únicas, tão cheias de sede de carinho, amor, de vivacidade, de reciprocidade.
Dali a diante eles viveram uma história de amor cheia de veracidade e cumplicidade, onde um acrescentava ao outro e sempre havia respeito. Fora um tempo de momentos único na vida deles. E Marina sentia-se cada vez mais completa ao lado de Mike. Mas de forma drástica, as coisas dali a alguns dias as coisas iriam mudar completamente. Marina iria receber uma notícia que iria dar um giro de 360 graus em sua vida.
Após uma vista de rotina ao médico, veio o diagnóstico de uma doença muito grave, que se não fosse tratada desde o início as chances de cura eram baixíssimas. E nela já estava em estágio avançado, fora um tormento pra ela a partir daquele dia ficar próxima ao seu amor. Por fim, resolveu aproveitar cada minuto ao lado dele, desfrutar ao máximo cada momento com ele, que é o único que despertou o sentimento mais verdadeiro e mais bonito que os humanos podem ter: o amor. E passou um mês de intensidade ao lado dele, cada sorriso dado por ele, cada gesto, cada palavra, foram guardados como únicos por Marina. 
Mas após outra visita ao médico, ele deixou bem claro que não restava muito tempo de vida a ela. Ela após sair do consultório, resolveu escrever uma carta e falar tudo que sentiu e sente por Mike.


Marina, 20 de setembro de 1997

Querido Mike, eu te amo. Desde a primeira vez que lhe vi, senti que o mundo havia mudado pra mim. Tudo teve outro sentido em minha vida e no nosso primeiro beijo, eu senti o calor de sua pele. Senti o teu abraço e não quis mais sair dele, gostaria de permanecer protegida ali por mais um, dois, três, cinco, sete, dez minutos, por toda minha vida. Foi tão significativo poder estar com você, mesmo que por pouco tempo, suas palavras foram as que me deram mais confiança. O "eu te amo" na hora da despedida me deu mais gás, é verdade, você tem esse potencial de me deixar melhor, é uma pena que não poderemos envelhecer juntos. Queria ser alguém melhor e sempre que você precisasse fazer você bem, mas sou falha e não conseguirei, fui chamada a uma viagem sem volta. Eu vivo nessa infinita oscilação e, só você me entende. Só você entende essa minhas fases, que me deixam nesse mar de incertezas. Gostaria de ter me entregado por inteira a você, mas não pude seria injusto com você. Meu amor me perdoe por nunca ter te falado o que se passava comigo, mas foi por amor e pra lhe poupar. Sempre estarei com você, te amo além do infinito."

Esta foi a carta deixada por Marina para seu grande amor Mike, ninguém sabe até hoje onde ela está enterrada. Após ter escrito a carta, ela viajou e não mais voltou para sua cidade natal.

*Romário Sena é graduando do quarto semestre de Letras Vernáculas da UEFS.

sábado, 6 de julho de 2013

AQUELA JANELA

Por Jaciene Andrade*


Primeiro, foi a desculpa clássica: “ela já está muito velha, a madeira pode dar mofo; é ruim para o problema respiratório da senhora”. Depois, o motivo real: “além do mais, o bairro todo está se modernizando, não combina mais com coisa antiga assim”. Coisa antiga? Não, ela é a minha janela!

Tenho outras coisas também: 83 anos, asma, reumatismo, problemas cardíacos, dedos finos – que tanto me serviram ao delicado ofício de fiar –, e tenho memória. Desde moça, recém-casada, moro nesta casa e habito esta janela. Meu marido – que Deus o tenha em bom lugar – viajava muito. Eu guardava minha esperança na janela. Para mim bastava a porção de realidade que ela me emoldurava. De olhos semi-baixos, meus dedos corriam naquela deliciosa magia que transforma maços de algodão em linha finíssima. Eu mesma bordava e perfumava os lençóis de cama; e esperava.

Mesmo depois que ele se foi, não deixei de estar à janela. Percebi que a atitude de esperar restava em mim inabalável. O que eu esperava? Eu realmente esperava alguma coisa? Os olhos morriam aos poucos em meus devaneios. Será que de tanto olhar a lua, eu tinha me apaixonado pela luneta? A janela. Minha companheira, minha ânsia de espera, meu filtro de luz de sol. Adorava enfeitá-la com cortinas coloridas, e pela manhã, abri-la preguiçosamente, ouvindo o barulhinho da madeira roçando o batente. Ouvir as dobradiças. O cheiro forte do óleo de peroba com que a ungia.

Há semanas, meus filhos querem tirá-la da casa e de mim, trocar por uma moderna. Nem lembram do quanto fiquei feliz quando meu quarto foi transferido para a região da janela por ocasião da última reforma... Mas estou velha, quase nada me é permitido. Não posso fiar, não posso ter minha janela. A memória lúcida me atormenta. Humildemente, aceitei não abri-la mais como antes, para evitar as tais perigosas correntes de ar. Ah, mas como eu gostava das correntes de ar misturando os cabelos finos... Não posso. Não posso ser fiadeira. A janela também envelheceu. É por isso então que ela não pode mais ser janela?

Saudade dolorosa do tempo em que ela foi janela, e eu, uma curiosa espectadora da vida. Sinto suas ranhuras, a madeira gasta e descorada do sol. Como queriam que ela ficasse? Nunca soube de alguém que, fitando o divino, permanecesse ileso.

Ela viu tantas coisas passarem, e agora vê chegando a sua vez. Eu também não me sustentarei por muito tempo. Não sei ver fora da janela. Ah, e esses dedos que doem tanto ao escrever! Será que lembrar é sofrer? Existe no ser humano uma essência de eternidade que não admite a finitude das coisas. Mas sempre haverá outra fiadeira, e outra janela, e outra fiadeira, e outra janela, e outra


* Jaciene Andrade é graduanda do 7º semestre de Letras Vernáculas da Uefs.

sábado, 1 de junho de 2013

Paranoia

Por Iagomes

Quando menos esperei, estava te olhando firmemente...
Aquela tua face me fez lembrar algo, algo do qual não sabia o que era, mas me fazia bem. Uma sensação de felicidade, de que finalmente havia encontrado algo que me completasse. Restaria um olhar seu. Mas você nem ao menos notava minha presença. De repente você virou e pela primeira vez naquela noite nossos olhos se encontraram... Algo mágico aconteceu... E aconteceu... Aconteceu como eu esperava... Um tiro... Um grito... Um jato de sangue cobriu o piso do bar... Você estava estirado, petrificado em meio a uma poça de água vermelha que em breve estaria coagulada. Não sei se posso chama-lo de amor, ou de uma paixão repentina, foi apenas uma troca afetuosa de olhar... Quando tudo parecia perfeito, a bala nos separou... Quando tudo parecia mágico, o teu sangue derramou...
Não lembro o que aconteceu naquela noite depois do acontecimento. Sei que acordei alguns dias depois em um quarto branco, totalmente branco, paredes, teto, piso, até a roupa que eu usava era marcadamente tingida de branco. Olhei para os lados e procurei alguma presença humana que me reconforta-se, mas parecia que eu estava sozinho, como realmente eu estava. Gritei, gritei desesperadamente em busca de resposta. Já estava no auge de meu desespero, quando ouço alguém mexendo na fechadura e me preparei para a entrada da pessoa que me tiraria daquele lugar.
Esperei alguns segundos. Vozes. A porta se abre e surge um homem, alto, forte e negro. Com aparência de um lutador de Boxe, vestia um jaleco branco, de médico... É isso de médico... Estava em um hospital, provavelmente me recuperando de algum tiro de raspão ou de um choque nervoso provocado pela situação do bar. Mas não era nem uma coisa nem outra...
Percebi quando entraram dois enfermeiros, me seguraram pelos braços e me injetaram um líquido por meio de uma seringa. Meu mundo começou a esmorecer, fiquei tonto e adormeci... Não lembro mais nada, apenas do gosto de sangue em minha boca. E ter visto toda aquela cena de um lugar que eu juraria ser um copo, um copo de uísque com gelo, muito gelo.

Iagomes (Iago Gomes) é estudante de Letras Vernáculas na UEFS.
Facebook: http://www.facebook.com/iagomess?fref=ts
E-mail: iagogomes18@gmail.com

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