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sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

UM POUCO DA VIDA E OBRA DE OLNEY SÃO PAULO, O ARTISTA QUE FEZ DA CÂMERA DE FILMAR SUA ARMA

* Por Rosana Carvalho


“Se o cinema não existisse (eu só não seria cineasta se o cinema não existisse) seria contista, pintor ou músico, nesta ordem” (Olney Alberto São Paulo).


Olney São Paulo nasceu na cidade de Riachão do Jacuípe em 7 de agosto de 1936, mas foi na cidade de Feira de Santana que começou a desenvolver seus dons artísticos e onde descobriu a sétima arte. Olney descende da mistura de espanhóis e portugueses que migraram para o Nordeste no período colonial. Era o filho mais velho do casal Joel São Paulo Rios e Rosália Oliveira. Foi em dezembro de 1948, quando ingressou no ginásio Santanópolis, que Olney descobriu o desejo de fazer cinema. A paixão pelo cinema, como ele mesmo dizia, surgiu na adolescência, frequentando os cinemas de Feira de Santana e já publicando artigos e críticas de cinema nos jornais locais.

Em 1954, o cineasta Alex Viany dirigia, no interior da Bahia, um episódio de um filme internacional na época chamado de Cinco canções. Passando por Feira de Santana, durante todo o tempo em que a equipe esteve na cidade, Olney tentou participar, acompanhando algumas tomadas de cena, e chegou mesmo a escrever uma carta para Alex Viany com o intuito de ser selecionado para participar das filmagens. Na carta, Olney confessa a Viany que chegou a forçar seu aparecimento em uma cena. Infelizmente, a cena foi cortada do filme. A equipe de Alex não aceitou Olney, alegando que a viagem até Canudos seria cansativa, já que na época Olney só tinha 18 anos. Na verdade, Olney não fazia questão da remuneração, ele queria mesmo era ser experimentado.

Olney São Paulo seria cineasta, mas faltava-lhe a experiência, o convívio com o meio, o que era praticamente impossível em uma cidade como Feira de Santana àquela época. Enquanto isso não acontecia ele ia fazendo seu aprendizado teórico, lendo livros, assistindo aos filmes que eram exibidos nos cinemas locais e, um pouco mais tarde, mantendo contato com a geração de cineastas que estava surgindo em Salvador. 

O primeiro filme de Olney foi filmado com uma câmara emprestada e a ajuda de alguns amigos. Olney foi diretor, câmara e ator nessa filmagem. O curta-metragem de 10 minutos foi intitulado de Um crime na rua e durante dois anos (1956-1957) foi exibido nas cidades do interior da Bahia, acompanhando os espetáculos teatrais de que Olney participava. Um crime na rua traria popularidade para Olney pelo pioneirismo na produção cinematográfica realizada no interior da Bahia, com recursos técnicos e artísticos locais.

Em 1959 Olney se casa com Maria Augusta, contra os protestos de sua mãe que o considerava muito novo para casar. Em 1º de janeiro de 1962 nasce o primeiro filho do casal, Olney Jr. Em 1967, Olney, Maria Augusta e os filhos Olney júnior, Ilya e Irving mudam-se para o Rio de Janeiro. Olney alimentava a esperança que, a exemplo do Rio de Janeiro e de São Paulo, a Bahia passasse a amparar melhor a indústria cinematográfica. Nessa época, o Brasil entrava em um dos períodos mais críticos da ditadura militar. Por ter feito um filme - um dos mais importantes de sua carreira, Manhã cinzenta, filmado em 1969 - Olney foi uma das personalidades mais injustiçadas da época, sendo preso e processado. Nunca comentou nada com a família e os amigos sobre os maus tratos e torturas que sofreu na prisão. No dia 11 de maio de 1971 nasce a filha de Olney, Maria Pilar, para dar um pouco de Alegria ao pai, em meio às frustrações do processo contra Manhã Cinzenta. Só em 13 de agosto de 1972 Olney foi definitivamente absolvido.

Desde sua prisão, em 1969, Olney sentia-se desprezado no seu trabalho no Banco do Brasil. Quando Olney chegava para sua seção no banco, sempre faltava alguma coisa, às vezes era sua cadeira, outras vezes sua máquina de escrever. Até que um dia Olney não encontrou sua mesa ele foi então, aposentado por invalidez contra seus protestos, antes mesmo dos 40 anos.
 
Foi nesse período pós-aposentadoria que Olney produziu o documentário que talvez seja sua melhor produção sertaneja: Sob o ditame de Rude Almagesto: sinais de chuva. O filme teve grande aceitação do público pela originalidade de sua temática e foi um dos vencedores da Mostra Nacional do Filme Documentário da Escola Técnica Federal do Paraná.

Na noite do dia 15 de setembro de 1978, Olney São Paulo morre depois de três paradas cardíacas com apenas 41 anos. A filha Pilar praticamente não tem lembranças do pai, quando ele morreu ela tinha apenas 6 anos. 

Olney São Paulo foi um artista fiel a sua gente e aos seus costumes, idealizou e concretizou muitos projetos que tinham por cenário o sertão. Muitas das produções de Olney eram rigidamente ligadas ao universo cultural sertanejo, focalizando as histórias, os costumes e a linguagem regional das caatingas. Essas palavras de Ângela José (1999: XX) sintetizam bem o grande artista que foi Olney São Paulo: “... com uma obra peculiar, pessoal, telúrica e humanística, Olney São Paulo se inscreve na aventura do cinema brasileiro como um dos seus personagens mais ativos, contribuindo com a discussão em torno da cultura brasileira, da cultura baiana e sertaneja, e no desenvolvimento da narrativa cinematográfica”.

Referências

JOSÉ, Angela. Olney São Paulo e a peleja do cinema sertanejo. Rio de Janeiro: Quartet, 1999.



* Rosana Carvalho é graduanda em Letras Vernáculas da UEFS e Bolsista de Iniciação Científica Probic/Uefs

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

MÚSICA, CINEMA E CULTURA: OLNEY SÃO PAULO EM "SINAIS DE CHUVA"

* Por Rosana Carvalho

Sob o Ditame de Rude Almajesto - Sinais de Chuva é um documentário rural produzido por Olney São Paulo em 1976. Esse curta-metragem tem argumento inspirado na crônica homônima do escritor feirense Eurico Alves Boaventura. O cineasta Olney São Paulo é natural de Riachão do Jacuípe, mas foi em Feira de Santana que Olney descobriu o amor pelo cinema e onde passou a desenvolver seus dons artísticos. Olney é mais conhecido pelo seu média-metragem Manhã Cinzenta, de 1964, que lhe rendeu prisão e processo durante um dos períodos mais críticos da Ditadura Militar. Ele sempre foi apaixonado pela temática sertaneja. Sinais de Chuva, segundo o próprio Olney, era um retorno a suas origens para documentar a preocupação do seu povo, no que se refere às condições climáticas da região.

Nesse documentário, o cineasta lança mão do diálogo com a literatura e com a música na construção dos significados para narrar a experiência do homem do campo em prever, nos sinais da natureza, se o ano terá ou não muita chuva no inverno. Trata-se de ensinamentos preservados na oralidade e transmitidos através das gerações como herança emocional. Sinais de chuva reproduz o lirismo e a cultura do camponês, seu apego pela terra e sua esperança em dias melhores.

Em Sinais de chuva, através do depoimento de Edgar Toledo, um sertanejo já idoso que viveu a seca de 1932, o espectador fica sabendo como ele percebe nos sinais da natureza se o inverno será chuvoso. A voz de Edgar em off se mistura com as vozes de outros dois camponeses, Valdenei, irmão de Olney, e Roque, que também contam suas experiências com a prática destes sinais: os ramos que o vento joga na estrada, quando o mandacaru floresce, quando o cupim cria asa ou a formiga avoa e até mesmo o cheiro da vegetação. Todo o depoimento é ilustrado com imagens da região onde vivem: as fazendas, os currais, o trabalho nas plantações, o hábito de pegar água nas cacimbas e os sinais de chuva (a lua no céu durante o dia, a flor do mandacaru, a neve na serra etc.).

As músicas que compõem a trilha sonora do documentário contribuem no processo de adaptação da narrativa literária de Eurico Alves em uma narrativa cinematográfica. Essas canções sertanejas dialogam com a temática da crônica e do documentário e ampliam o significado das imagens. Em alguns momentos do filme, enquanto os sertanejos explicam os sinais de chuvas, aparecem na tela imagens que ilustram esses sinais e, em alguns momentos, o espectador pode perceber, concomitante aos depoimentos, melodias das canções que também explicam os sinais. Por exemplo, quando um dos sertanejos explica o sinal de chuva indicado pelo marimbondo exu-caboclo, pode-se ouvir, como fundo sonoro, a melodia da música Marimbondo de Luiz Gonzaga cuja letra também explica esse sinal.

Bill Nichols distingue, na história dos filmes documentais, quatro estilos de produção, cada um com características formais e ideológicas próprias, a saber: o discurso direto, primeira forma acabada de documentário, o cinema direto, um terceiro estilo surgido a partir de 1970, que incorpora o discurso direto só que na forma de entrevista, e um estilo mais recente, auto reflexivo, que mistura passagens observacionais com entrevistas. De acordo com a essa divisão de estilo proposta por Nichols, o documentário de Olney desenvolve o estilo de cinema direto ou cinema verdade, pois suas cenas são construídas a partir de vivências reais acerca do assunto tratado, visando um efeito verdade através do imediatismo e da impressão de captura de cenas reais e diretas do cotidiano de determinadas pessoas, o que, segundo Nichols, caracteriza o estilo de cinema direto.

As crenças sertanejas para prever épocas de fartura de água ou para se preparar para avassaladoras secas, bem como o cotidiano da população sertaneja e seus saberes são exibidos de modo poético no documentário que reconstrói através de imagens a crônica de Eurico Alves e as canções nordestinas de Luiz Gonzaga. O documentário é formado por depoimentos de vivências reais no sertão e o descompasso entre as imagens e os depoimentos pode ser atribuído ao baixo orçamento do cinema brasileiro daquele momento. Em Sinais de chuva Olney reconstrói o ideário do sertão fabulando realidades, captando personagens em situações previstas ou improvisadas essa produção cinematográfica revela o imaginário do homem sertanejo com suas crenças acerca da chuva; situado entre o “cinema direto” e o “cinema verdade”, esse documentário vai além de reconstruir fábulas ficcionais das situações reais, ele é fundamental para discussão de aspectos importantes da cultura popular brasileira.

Referências

JOSÉ, Angela. Olney São Paulo e a peleja do cinema sertanejo. Rio de Janeiro: Quarteto, 1999.

NICHOLS, Bill. A voz do documentário. In: RAMOS, Fernão (Org.). Teoria contemporânea do cinema: documentário e narrativa ficcional. São Paulo: Editora Senac, 2005. p. 47-67. v. 2: documentário e narratividade ficcional.

NOVAES, Claudio Cledson. Aspectos críticos da literatura e do cinema na obra de Olney São Paulo. Salvador: Quarteto, 2011.


* Rosana Carvalho é graduanda em Letras Vernáculas da UEFS e Bolsista de Iniciação Científica Probic/Uefs

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

A(s) passagem(ns) em sala(s) e a aquisição do ISSN

Hoje postamos um texto relacionando a aquisição da identificação da revista como identificação do próprio curso com ela e um trecho de filme.

Por Danilo Cerqueira*


Últimos dias de setembro, 2010. As passagens de sala que fizemos em alguns semestres do curso de Letras para, dentre outras coisas, arrecadar dinheiro para adquirir o ISSN, fizeram pensar sobre como e porque pusemos essa ideia em prática. Por que pedir dinheiro para pagar a identificação dada ao nosso periódico? Identificação... Talvez essa palavra possa ser explorada em diversos contextos e argumentações.
Segundo o Instituto Brasileiro de Informação, Ciência e Tecnologia (IBICT) o ISSN é “o identificador aceito internacionalmente para individualizar o título de uma publicação seriada, tornando-o único e definitivo”. Essa é a definição clássica do Número Internacional Normalizado para Publicações Seriadas (detalhe: a sigla representa um nome em inglês, International Standard Serial Number). Analogamente, podemos dizer que este número, com status de documento, é a “carteira de identidade” de um periódico. No caso da Graduando, em função de termos apenas produções textuais acadêmicas dos estudantes de Letras da UEFS, poderíamos ainda afirmar: ele torna identificável internacionalmente o nosso curso. Assim, ele valora o ― nosso ― periódico enquanto produção acadêmica feirense (institucionalmente, claro, porque os autores, coautores, orientadores, comissários, conselheiros e colaboradores são de diversos lugares, nascidos fora da Bahia e até do Brasil). No entanto, ainda temos outra ideia de valor: a monetária. Esta, por incrível que pareça, não está tão distante da primeira.
A ajuda dos estudantes foi mais do que suficiente. Arrecadamos o dinheiro necessário, mesmo sem passar em todas as turmas do curso ― não foi por isso que as passagens pararam naquele semestre. A visita (termo mais apropriado do que passagem) aos nossos colegas foi motivada pela ideia de que o sentimento de participação do curso em relação à revista seria maior se houvesse uma doação ― ínfima, para alguns ― em dinheiro. Se metade do curso (mais de 350 estudantes), por exemplo, contribuísse com R$ 0,25, conseguiríamos pagar as taxas referentes às aquisições do ISSN (das edições virtual e impressa) sem dificuldades. Menos da metade do curso foi consultada sobre a doação, professores e futuros professores ajudaram... E nós conseguimos a quantia necessária! Essa forma de adesão dos nossos colegas à revista, após alguns meses de apresentada à comunidade acadêmica da UEFS (abril de 2010), ajudou a colocar a identificação já no primeiro número impresso, lançado no dia 2 de dezembro do mesmo ano. 25 centavos... Graduando... Uma palavra, algumas moedas, identificação. A passagem/visita para motivar a existência de uma revista (ou texto) que tem tantos valores quanto pessoas que o podem ver e ler pode ir além da própria fala ou escrita.
Uma cena do filme Antes do amanhecer (1995) retrata, dentre os muitos acasos de um jovem casal que acaba de se conhecer, o ínfimo pagamento deles a um poeta, para que este escreva um poema com a palavra “Milkshake”. Pelo perfil do artista, o destino das moedas seria pagar o prazer instantâneo de uma bebida ou fumo (bem diferente do nosso International Standard Serial Number, “único e definitivo”)... Francamente, o tal poema não vale nem a atenção do casal, quanto mais o dinheiro (!)... As impressões têm a consequência de enganar.
De acordo com a LEI n° 10.994 (14/12/2004), um exemplar de todas as publicações brasileiras deverá ser encaminhado à Fundação Biblioteca Nacional, com o objetivo principal de assegurar a coleta, a guarda e a difusão da produção intelectual brasileira, visando à preservação e formação da Coleção Memória Nacional. Pagar por um escrito que representa esses momentos, algo para o “encontro” entre duas pessoas ― ou mais de 700 ― é, talvez, a esperança de que ideias comuns ou sentimentos iguais (ou que se quer semelhantes) se identifiquem em torno de uma palavra que une o conhecimento e a ação, a produção de saber que, se em um caso emociona, em outro pode co-mover. Voltaremos ao nosso lugar, para escrever mais, para co-laborar mais.



Encarte de Antes do Amanhecer (1995. Dir. Richard Linklater)

* Danilo Cerqueira é licenciado em Letras Vernáculas e cursa o mestrado em Literatura e Diversidade Cultural, ambos na Uefs, e integra o conselho editorial da Graduando.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Coletivo Inovacine

Por João Daniel Guimarães Oliveira*


O Coletivo Inovacine surgiu no primeiro semestre do ano de 2011 com o propósito de pensar e consolidar a difusão do cinema em Feira de Santana, utilizando-se dos mais variados espaços da cidade. A ideia surgiu a partir da iniciativa de alunos, ex-alunos, professores e funcionários da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), que se associaram para discutir as possibilidades de ampliação de atividades cineclubistas, inicialmente dentro da universidade, mas se estendendo a outros pontos da cidade, para atender a população feirense como um todo. 

Após as primeiras sessões realizadas, verificamos que, diante da carência de cinema (e de discussão deste), não estritamente na UEFS, mas na região de Feira de Santana, seria sensato pensar a possibilidade de expandir esse trabalho. Afirmaram-se, portanto, as possibilidades de ampliação de atividades cineclubistas, não as restringindo ao ambiente acadêmico, mas as estendendo a outros locais na cidade, no intuito de atender a população feirense como um todo. Hoje, contamos com o apoio de diversas entidades, entre elas o Museu de Arte Contemporânea Raimundo Oliveira - MAC, onde firmamos e consolidamos um espaço cineclubista, com sessões semanais, sempre às sextas-feiras, às 18:30 ou 19:00. 

O coletivo possui, na UEFS, o apoio do Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT-UEFS) e Assessoria Técnica de Recursos Humanos (ATRH-UEFS), além desses, estabeleceu parceria com outros grupos e instituições, entre elas: o Centro de Cultura Amélio Amorim - CCAAm; o Centro de Cultura Maestro Miro; o Feira Coletivo Cultural; a TV Olhos D'Água; e a Engenho Treinamento e Desenvolvimento. O grupo não é restrito e há espaço para contribuições de qualquer ordem, porém, atualmente se constituem como equipe executora as seguintes pessoas: Davi Henrique Correia de Codes (Graduando em Ciências Biológicas – UEFS); Davi Santana de Lara (Graduado em Letras Vernáculas – UEFS); Fabio Pereira Costa (Graduando em História – UEFS); João Daniel Guimarães Oliveira (Graduando em Letras Vernáculas – UEFS); Luciane Almeida (Graduada em História – UEFS); Meiryelle Souza (Graduada em Jornalismo – Faculdade 2 de Julho); e Paulo Fabrício dos Reis (Graduado em Letras com Francês – UEFS).





* João Daniel Guimarães Oliveira é Graduando em Letras Vernáculas na UEFS e faz parte da equipe do Coletivo Inovacine.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

"Com mérito!"

É possível registrar a experiência sob uma inscrição em papel? Sim, e é isso o que demonstram nossos currículos. Antes de registrarem títulos (entendido, a grosso modo, como um atestado de vida intelectual e prática), eles resgatam, por comprovação, experiências; algo como uma fotografia cognitiva, onde o complemento se torna cada vez mais valioso, não pelo papel, mas pelo que se pode discorrer a respeito dele. Todos os momentos desde o primeiro lapso – o momento primordial da ideia – até a última palestra ou comentário, são vividos como se fosse uma cumulação (conceito da Linguística: reunião, num mesmo morfema, de várias funções gramaticais [talvez significações]) – e não acumulação – de conhecimento.

Esse todo, com a sucessividade de nossas experiências, transforma-se em saber, mais atemporal, pessoal e intrínseco, assim, a cada faísca de pensamento que singulariza cada um de todos nós. Penso que nossas indistintas assimilações, com o tempo, como que decantam nos locais mais ermos de nossas lembranças e, em momentos inesperados, surgem feito “a mão” que movimenta certo volume de água, ar... ou globo com bolinhas – tanto do bingo mais próximo como o da Mega Sena – atrás do que falta para o grande prêmio. Em instantes, passa-se do que se julga um “mero mortal” à momentânea impressão da mais completa e exuberante inteligência humana – estado não só de inteligibilidade, mas de sapiência. Assim, tateamos o reino das palavras em estado de dicionário, como poetiza Drummond. Os vocábulos substantivam nossas ações e percepções de espaços, pessoas, notícias, comportamentos, concepções sobre diversos assuntos e relações entre campos do conhecimento. Talvez a consequência disso seja presenciarmos uma expansão (não crescimento) e conforto que impulsiona nossas vidas a buscar cada vez mais experiências, mais conhecimento, mais capacidade de relacionar, mais eventos, mais sensação de saber... e claro, mais documentos que os comprovem.

Mas há de se averiguar o verso deste pensamento – quase com status de lei de formação – cognitivo, intelectual e social. Um dos riscos da comprovação do conhecimento é a burocratização do saber e o encontro de fendas no “espaço-tempo” de nossas atividades. Somente a teoria da relatividade e seus desencadeamentos contemporâneos nos mais diversos campos do saber poderia dar conta dos casos de onipresença, onipotência e onisciência que emergem tanto de nossas TVs ou telas de computador quanto das demais formas percebidas através do globo ocular.

Assisti a um filme no qual, em determinada cena, o professor pergunta “a seus alunos” (contexto do filme): “Qual a genialidade da constituição?”.
A resposta que “impressionou” (com mérito) o professor (mas regozijou a turma) foi a seguinte:

 “- A genialidade da Constituição é que sempre pode ser mudada. A genialidade da Constituição... é que não manda permanentemente, mas contida... na sabedoria das pessoas comuns para se governarem. 'Confiança na sabedoria do povo... é exatamente o que faz a Constituição incompleta e crua' [Fala do professor].  Crua? [...] Nossos ancestrais eram fazendeiros, brancos, de meia-idade... mas eram também grandes homens... porque eles sabiam algo que todo grande homem deve saber: Que eles não sabiam tudo. Eles sabiam que podiam cometer erros, mas inventaram um jeito de corrigi-los. Eles não se achavam líderes. Eles queriam um governo de cidadãos, não de realeza. Um governo de ouvintes, não de conferencistas. Um governo que pudesse mudar, não ficar parado. O presidente não é um rei eleito, não importa quantas bombas possa jogar... porque a crua Constituição não confia nele. Ele é um servo do povo. [...] O único prazer que ele busca é... liberdade... e justiça.”


Uma pergunta a ser formulada a respeito da cena: Quem responde ao professor? Um autointitulado vagabundo de Harvard.


Danilo Cerqueira Almeida


Cena do filme Com Mérito (Dir.  Alek Keshishian, 1994).





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