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segunda-feira, 16 de março de 2015

POR QUE ALGUÉM AINDA QUER SER PROFESSOR?

Por Maria Rosane Vale Noronha Desiderio  *


Houve uma época memorável de nossas vidas juvenis em que desejávamos ser tão extraordinários quanto nossos professores. E quem já não disse lá por volta dos seus sete anos de idade que quando crescesse gostaria de ser bombeiro, policial, médico e professor. O professor era uma espécie de herói infantil. Ele, certamente, sabia tudo. Um mago. Mas o que aconteceu depois? O que houve com as crianças desejosas de serem professores? O que houve com as maçãs nas mesinhas. É, parece que os tempos mudaram muitíssimo!

Hoje em pleno século XXI ser professor não possui mais o glamour de outrora. E as belas palavras de Paulo Freire sobre a importância dos professores como agentes que conduzem seus alunos a atravessarem as fronteiras do senso comum para aventurarem-se nos saberes mais profundos com liberdade e curiosidade, tornando-se sujeitos atuantes e críticos, vem gradativamente dando lugar a professores desmotivados, desrespeitados e presos a cenários de trabalho que não os motiva nem os instiga a romperem com as velhas didáticas, disseminando apatia semelhante em seus alunos.

Os professores do século XXI encontram no cenário nacional uma impressionante desvalorização de sua profissão. A sociedade ao ver um jovem entrar na universidade para uma licenciatura tece uma rede imensa de críticas e reprovações. Ser professor? Para que? Logo se supõe que esse calouro não tem a capacidade de cursar um curso de maior prestígio. E o perfil do calouro é logo traçado: vem de escola pública, não aprendeu o suficiente e não teve outra opção a não ser a licenciatura. Argumentos fortes, os preferidos da imprensa e da sociedade atual. Bom, obviamente que esses argumentos são um tiro no pé da educação pública brasileira, mas isso é assunto para outro momento. O fato é que esta profissão hoje, na visão da sociedade, é sinônima de ausência de melhores opções.

Mas de quem é a culpa? Do governo que oferece um salário muito aquém do que deveria? Será que é só isso? Certamente a melhora na condição salarial seria um grande avanço nos passos para uma valorização do professor, mas não é só isso. Falta oferecer a este profissional condições de trabalho mais adequada e segura. Pois, o professor enquanto autoridade não é mais levado a serio dentro das salas de aula, não é mais ouvido e respeitado pelos pais de seus alunos e precisa fazer malabarismos para oferecer aos alunos o mínimo para a continuidade das aulas. Muitas vezes precisa ele mesmo comprar materiais básicos como folhas para as provas. Quem pode imaginar os suplícios que passam professores de zonas rurais isoladas aonde nada chega e tudo falta.

Outra questão é a violência. Os casos de professores mortos por ex-alunos, ou atuais, começa a se multiplicar em todo o país, mas outros tantos que nem se quer vem a público como tapas, palavras ofensivas, textos, fotos ou vídeos para denigrir a imagem de docentes em redes sociais e sites. A autoridade do professor vem sendo cada vez menos presente nas salas de aula, culpa de uma enxurrada de circunstâncias que se aglomeram e vira uma bola de neve, carregando a profissão docente ladeira a baixo. É lamentável. Realmente lamentável!

O título deste texto não recebeu aspas por acaso. É uma fala de um pré-adolescente quando ouviu de uma jovem aluna universitária de licenciatura que esta estudava letras vernáculas. “Por que alguém ainda quer ser professor” no Brasil? É bom o governo e a sociedade encontrar boas respostas e rápido para essa pergunta. Caso contrário, haverá um déficit imenso de docentes nas escolas e universidades do Brasil.


*  Maria Rosane Vale Noronha Desidério é aluna do 6º semestre do curso Letras Vernáculas pela UEFS.

segunda-feira, 2 de março de 2015

UMA QUESTÃO DE IDENTIDADE

Por Maria Rosane Vale Noronha Desidério *


Supõe-se que todas as nações do mundo estão deitadas sobre o berço esplendido de sua história. E, este berço é, sem dúvida, também o alicerce de sua identidade, de sua particularidade no meio universal. Mas quando os alicerces históricos de uma nação são apagados como definir seu conceito de identidade?

Esta foi, certamente, uma pergunta muito presente entre os intelectuais do Brasil. Como identificar a identidade de uma nação cujo passado foi apagado? Os Românticos, influenciados pelos ideais iluministas, buscavam as respostas entre os primeiros habitantes das terras brasileiras – os índios. No entanto, a cultura indígena há muito que havia sido suplantada pela europeia. Os Românticos, então, idealizaram o índio na tentativa de constitui-lo como herói nacional, como o representante genuíno da nova pátria.

Transformar o índio em herói da nova pátria seria uma saída extraordinária para uma nação sem história, sem passado, mas a solução se mostrou conflituosa. E, isto ocorreu porque primeiro, a figura indígena foi retratada sob aspectos que não lhe era próprio. O índio herói possuía um caráter europeizado, cristianizado, imbuído de uma profunda inocência, coragem e generosidade, incapaz de atitudes cruéis e profundamente fiel ao amor e ao cuidado com o branco. Lembremo-nos de Peri devotado ao amor por Ceci.

Em segundo lugar, buscava-se alicerçar o Brasil sobre uma cultura que fora esmagada pelo Outro europeu. Uma cultura que desde o princípio foi subjugada inferior pelo olhar europeu. Ao ler Iracema de José de Alencar, observamos o abafamento da cultura indígena para que florescesse a do Outro. A metáfora de Iracema que abandona suas raízes para devotar-se ao amor do europeu Martim e morre solitária para dá a vida ao filho – fruto da dominação do Outro, demonstra essa visão de que era necessário, para que a cultura europeia florescesse, a morte sacrificial da indígena.

Portanto, é profundamente complexo construir a ideia de identidade nacional, alicerçado ao índio. Porque este não era exposto, de fato, como ele era. Logo, a identidade brasileira não possuía raízes sólidas. O que havia era uma idealização conflituosa e pouco palpável. 

A busca pela temática indígena fora, certamente, motivada pela necessidade de se libertar das influencias portuguesas. Era preciso encontrar as raízes, mas estas já não existiam, de fato. Esta tentativa de livrar-se de Portugal aproximou os escritores brasileiros da França. Estes vislumbraram o Brasil e sua natureza exuberante e imensa, enquanto contemplavam o rio cena. A literatura brasileira ainda estava impregnada pelo olhar europeu. Não havia como não estar, tendo em vista, que os nossos escritores estavam tomados pelo Outro – ainda que a princípio não percebam a força umbilical de sua ligação com o outro estrangeiro. 

É interessante observarmos que todo o processo de construção do ideário de Pátria e da própria literatura no Romantismo não levou em conta a matriz africana. Isso ocorreu porque o negro também era visualizado como o Outro. É este outro estava agravado pela condição de escravo. Desta forma, os escritores Românticos rejeitaram os Portugueses e os africanos, mas agarraram-se a ideologia iluminista da França. E, assim, a França diferentemente de Portugal, conquistou o Brasil de forma diferente. Conquistou o Brasil de forma mais poderosa – pelo pensamento, pela palavra. 

A literatura nacional, portanto, não possuía um caráter efetivamente nacional. Estava caminhando a passos tímidos em busca de encontrar o seu caráter particular, universal. Mas esta tarefa seria e permanece bastante complexa.


Maria Rosane Vale Noronha Desidério é aluna do 6º semestre do curso Letras Vernáculas pela UEFS.

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