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segunda-feira, 30 de abril de 2018

QUANDO NÃO HÁ CORRENTE

Por Danilo Cerqueira*


Quando não há corrente, não há elos, não há passagem, não há articulação, não há movimento. Não há perspectiva, não há horizonte, não há sucessividade, não há "o que vier", não há-ve-rá.
Quando não há corrente, não há objetivos comuns, não há o ser do futuro porque não há o par, mero conjunto, no presente. Quando não há corrente, os olhares são perdidos, pois se esquece que se pode aprender com outro humano, modo de subentendermos que há entre e em nós, humanidade. Quando não há corrente, não há passagem de bastão, não se consegue nada que vale a pena ser lembrado pelo resto da vida, pois do que vale uma vitória conseguida única e exclusivamente sozinho? Se for possível identificar tal espécie de vitória, é preciso expô-la para que seja posta à prova da participação de mais um qualquer que seja nessa conquista. A possibilidade existe como pensamento, mas duvido que exista como realidade.

Quando não há corrente, não há bicicleta, o veículo de duas(!) rodas... E se não tiver correntes?... É... a questão não é a corrente... É seu conjunto que no outro podem ser... dentes! É na conversa que estão, assim, dois (ainda que em apenas um) na conversa... Jogos de poder? Sim!... Necessidade de afirmação? Sim... Ânsia por submeter o outro ao que você pensa e defende por meio de suas palavras? Sim!... Receio de que o outro ou a outra desprestigie suas hesitações, medos e demais fraquezas e, digamos, defeitos? Sim!... Mas são medos inerentes a qualquer comunicação entre pessoas. Sem agrupamentos em torno de assuntos, convicções, ideias, projetos, ações, características, semelhanças, diferenças, objetivos, acasos e tantas maneiras de comungar olhares e palavras, sons e atenções, não se pode consubstanciar o alicerce coletivo humano que fundamenta as atividades mais exitosas e reconhecidas entre quaisquer grupos humanos, somente concebidas por um senso conglomerador de notável percepção e sensibilidade social - ou grupal, ou conjugal, ou amical, ou sentimental, ou familiar, ou política, ou representativa, ou idealizadora (ideária)...

Quando não há corrente, não se passa pra frente... Não se vai para a frente, não se pode sair daquela inércia que conforta, mas deforma; que exalta, mas angustia; que promove, e que esvazia; que assegura, mas inquieta... Conviver com essas experiências eventualmente pode ser compreensível, mas a manifestação intensamente periódica desses estados no cotidiano de nossas atividades é desestruturante de nossa condição humana. Creio que tendemos a ser alternos mesmo, no sentido de que estamos entre racional e irracional, e daí com suas potencialidades incompletas nos campos de pensamentos e do que também não pode ou ainda não foi pensado; do que pode e do que não pode ser pensado por quem quer que seja.

Quando não há corrente, se escreve assim. Quando não há corrente, se lê assim... sozinho, escondido, amedrontado... Quanto tempo levou entre este texto surgir à sua frente e você se submeter a lê-lo? Será que vai comentar sobre ele com alguma pessoa? E aí, vai passar essa corrente? O que será qualquer organizado de sons e palavras senão uma outra forma de corrente, sem retorno, esperando sempre que a movimentemos para a frente... em conjunto, com os nossos dentes, saliva, energia e... o que vier depois do dia?


* Danilo Cerqueira possui graduação e pós-graduação pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Atualmente, é professor da rede pública de educação do Estado da Bahia na cidade de Feira de Santana.

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