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segunda-feira, 26 de maio de 2014

A TRAGÉDIA: TENSÃO – REFLEXÃO – NOVA VISÃO

* Por Maria Rosane Vale Noronha Desidério

As sociedades, desde as mais antigas até as modernas ou ditas contemporâneas, possuem certos rituais que compõem suas culturas. A exemplo, temos as cerimônias de casamentos, as procissões com santos ou de outras ordens, as passeatas e, até mesmo, os protestos. Estas manifestações são vistas por todos, são coletivas, e fazem parte do cotidiano da sociedade. A estas manifestações, de acordo com a teoria literária, dá-se o nome de Teatrón — manifestações do cotidiano, da vida social. Mas, quando as manifestações, além de existirem para serem vistas, possuem um local determinado para serem exibidas — o teatro —, despertam no espectador questionamentos, reflexões, suscitam perguntas irrespondíveis e produzem tensão. Temos, então, o Dramatós

Quando pensamos no significado da palavra dramatós, no contexto da literatura, e nos transportamos até a Grécia do século V a.c., uma Grécia dividida entre a suprema autoridade e poder inquestionável exercido pelos deuses, e a necessidade de organizar uma sociedade com regras que garantissem uma ordem social, não fica difícil imaginar o que as autoridades políticas pensaram fazer com o Dramatós, melhor dizendo, o teatro dramático que começava a se formar.

A Grécia do século V a.c. estava começando a formar a noção de coletividade, porque até então o que havia era o sistema de clãs. E, nesta sociedade coletiva, todos precisavam viver em prol do coletivo. Isto significava que não poderiam fazer aquilo que lhes viesse à cabeça, era necessário seguir uma ordem: leis, deveres, direitos. Mas como alcançar isso em uma sociedade dominada pelos mitos? Uma sociedade que acreditava que os deuses regiam todas as coisas, inclusive as ações dos homens? Simples, era preciso questionar este sistema até então vigente. Questionar os deuses, questionar seu domínio sobre as ações humanas, sua benevolência. Questionar, esta era a palavra de ordem. Mas a quem delegar esta tarefa? Que instrumento usar? É aí que entra a tragédia. 

E se o teatro trágico era o instrumento, ele precisava alcançar a todos. E assim foi feito. A tragédia começou a abordar temas que causavam uma tensão imediata, suscitavam nos expectadores a compaixão e o terror, levando-os a se colocarem no lugar do personagem, a questionar os deuses e a temer se verem em situação semelhante àquela vivida pelo personagem.

O personagem, ou melhor, o herói era, a princípio, colocado como alguém poderoso, influente, digno de ser imitado. No entanto, esse herói é jogado nas piores situações por um erro trágico, a Hemartia, e deixa de ser um modelo para se tornar abominável, um ser cheio de questionamentos, conflitos, semelhante ao herói moderno. Em Édipo Rei, de Sófocles, o herói é Édipo, que se vê diante de uma profecia nefasta. E, para livrar-se deste destino, foge — Hibris. Contudo, sua fuga o conduz justamente ao cumprimento desta profecia, embora ele não saiba. Édipo mata o pai em um entroncamento de três caminhos — Hemartia — e, depois de desvendar o segredo da esfinge em Tebas, casa-se com a rainha da cidade, que vinha a ser sua mãe. Novamente é preciso dizer, Édipo não tinha nenhum conhecimento de tais parentescos. Édipo comete dois erros nefastos: matar o pai e casar com a própria mãe — parricida e incesto. Estes temas ou outros igualmente fortes estarão sempre presentes nas tragédias.

A história de Édipo traz ao público profundos questionamentos. A de se perguntar: por que um deus decreta tão duro destino a uma criança? Por que o castigar se foi o próprio deus quem decretou tal profecia? Que deus é esse tão cruel? É preciso perguntar ainda: será que Édipo tinha escolha? A estrada era um entroncamento. Será que não temos mais de uma saída para as situações de tensão? Por outro lado, se Édipo não sabia, embora a culpa seja fato, quem estava matando e com quem estava casando, qual o grau de culpa que ele tem? Estas eram perguntas que provavelmente os espectadores se faziam ao longo da peça, mas tais perguntas não tinham a pretensão de serem respondidas. Permaneciam no ar, levando os espectadores a tomar mais cuidado com seus atos, a fim de não se verem em desventuras como a de Édipo.

Outro ponto que é importante salientar é que, a despeito do grau de culpa de Édipo, o crime precisava ser punido e esta punição recaía sobre quem o cometeu. Não era mais delegada culpa a deus algum. O homem é que deveria arcar com sua culpa.

Esta concepção colocaria ordem na desordem social, pois todos precisavam saber seu papel na coletividade, precisavam saber quais seus deveres e precisavam arcar sozinhos com seus erros.


REFERÊNCIAS

SÓFOCLES. Édipo Rei. Porto Alegre: L e PM Pocket, 2013
SANTOS, Adilson dos. A tragédia grega: um estudo teórico. Revista Investigações, n. 1, 2005. Disponível em: <http://www.revistainvestigacoes.com.br/Volumes/Vol.18.N.1_2005_ARTIGOSWEB/A-tragedia-grega-um-estudo-teorico_ADILSON-DOS-SANTOS.pdf>.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

DE REPENTE A PAIXÃO

* Por Manuele Souza Costa


Era uma noite de verão quando em um canto escuro os dois se entrelaçavam romanticamente. Ela sorridente o abraça, como quem queria encontrar a felicidade em seus braços. E ele com seu rosto trêmulo, olhar profundo e mãos suaves, transparecia a segurança e a felicidade que ela desejava encontrar. Apesar dessa timidez, se abraçavam e beijavam com uma intensidade que nem parecia ser o primeiro encontro, e que esse nasceu do nada.

Não passava das 24:00 horas, e os sinos da igreja batiam, porque era noite de natal. Foi quando ela percebeu que o tempo ao lado dele tinha passado depressa, e já havia ficado tarde. Ela saiu às pressas, sentindo seu coração bater mais forte. Era a dor de o ter deixado, o que ela não esperava. Porque de início, aquilo não passava de curtição, mas tocou-a. Pelo sentimentalismo, o carinho com que a tocava. Tudo o que ele fez, fazendo-a estremecer.

Eles moravam próximos, mas não parecia, era muito difícil eles se verem. Mas, seguido do acontecimento, eles sempre se batiam, na rua, sem querer, numa esquina qualquer, como se fosse coisa do destino. Se olhavam disfarçadamente, dava aquele sorriso de cantinho de boca, como que a presença um do outro trazia lembranças boas.

Passando um tempo, eles se aproximam, começam a se falar. Um pouco depois, rápido, aquilo foi ficando tão corriqueiro, que eles nem tinham percebido quão profundo aqueles encontros tinham se tornado. Eles sentavam todas as noites para bater papo, até que pintou o clima e o beijo rolou. No entanto, como já esperávamos, os encontros passam de conversas para beijos e abraços, transformando todo esse embaraçoso relacionamento em um lindo namoro. Com freqüência, eles se encontravam às escondidas, para trocar carícias.  Eram muito novos, entrando na adolescência. Por isso, o relacionamento que crescia a cada dia ficara impossível de ser na frente de todos.

Os pais dela não aceitavam, e foi ficando cada vez mais difícil deles se verem. O tempo foi passando, casos e casos aconteceram, fazendo com que o relacionamento deles acabasse. Deixando ele arrasado, pois ela havia desenvolvido nele um sentimento muito forte. Apesar de, por seu marxismo ainda, não ter determinado um nome para esse sentimento.

Passaram-se dois meses, a falta que um fazia para o outro se tornara irresistível. Ela voltou a procurá-lo, tentando reatar, porque sabia que entre eles existia um sentimento. Mas ele resistiu alegando que não queria mais se machucar, e que ele sofreu muito quando eles terminaram. 

Não era o que ela esperava. Pensava que ele iria pular de alegria, beijá-la, e matar aquela saudade que fez com ela o procurasse. Contudo, ficou sem palavras, respirando fundo, e com os olhos lacrimejando. Insistiu, mas houve pouca mudança. Ele queria, só estava com medo, armado contra a dor que causa um relacionamento. Mostrou a resposta dele, que foi: vou pensar. Conseguindo arrancar dela um sorriso, mesmo triste.

Ansiosa, queria procurá-lo, encostar perto dele onde estivesse com quem estivesse. Até que, por fim, ele a procurou e sem demora disse, sim, sim, eu quero ficar ao seu lado. Começaram então, um novo relacionamento. Ela com vontade de enfrentar tudo e todos para que eles pudessem ficar juntos. E ele, apoiando, sendo muito responsável apesar da idade. Continuaram por muito tempo assim.

Vendo que o que eles sentiam era verdadeiro, os pais dela resolveram aceitar, deixando-os mais felizes. Ele passou a ir todos os dias na casa dela; ficavam namorando à luz do luar, sentados numa cadeira vermelha, sempre. Aquilo tudo para ela parecia um sonho; mas, sonho mesmo foi quando numa noite bem estrelada, eles se encontraram em um lugar misterioso, para assistir um filme, comer pipoca, coisa assim. Quando no final dele os beijos e caricias ardiam, como se fosse fogo, dentro deles. E algo mais forte fez com que aquela noite de 03 de março se tornasse inesquecível para eles. Eles arrancaram-se as roupas e se entregaram de corpo e alma, um para o outro. De uma forma tão intensa, eles se amavam. Ela tremia e suava, mas ele insistente e carinhoso, tentava acalmá-la, a fazendo permanecer.

Poderia existir uma prova de amor maior que essa? Aquela noite foi a melhor da vida deles. Tão gostosa e mágica. Transformaram-se suas vidas. Agora sentiam-se homem e mulher. Responsáveis, mas amáveis, melhor.

Anos passaram, dentro desse tempo aconteceram muitas coisas. Inclusive separações. Brigavam muito, e como tinham mente infantil, terminavam, ficavam com outras pessoas, mas sempre voltavam, afinal, existia um sentimento. Apesar de um ter machucado o outro, esqueciam, para eles aquilo não passava de meras bobagens, o importante é que eles estavam juntos, e o que passou, eles preferiam deixar no passado.

Conforme o tempo ia passando, eles amadureciam com os próprios erros, acabando com as brigas e separações.

Hoje faz sete anos do nascimento desse grande amor. Então quer dizer que a paixão nasceu no primeiro dia? Se apaixonaram por causa de um beijo? Ou teve toda uma magia que os entrelaçou naquele momento? Ahh, isso não importa, só quem sabe é Deus. O que importa é que eles estão juntos se amando, respeitando-se, sentindo a felicidade reinando entre eles.

Dormem juntos, vez em quando, se tratam como no início do namoro. Sentem o amor muito forte, planejam casar. E sabem que são responsáveis pela felicidade um do outro. A metade de um está no outro. E nem pensam em estar separados. A alma deles andam juntas. E a vida de um sem o outro não existia.

* Manuele Souza Costa é estudante de Letras Vernáculas da Uefs.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

QUANDO O SOL SE PÕE VERMELHO

* Por Rebeca Cerqueira da Silva

“Eu amadureci uns vintes anos em apenas dois.” Pensou Túlia, sentada naquele banco de praça. Um banco de concreto bastante corroído pelo tempo que, metaforicamente, poderia significar o seu coração. Túlia sentiu muita dor no tempo, pouco mais de duas décadas, que tinha vivido. Foi agredida das mais diversas formas imagináveis. Ainda tinha as marcas em seu corpo, mesmo estas sendo invisíveis. Por um tempo considerável, foi uma pessoa fechada, introspectiva, centrada em si mesma, que quase não dava espaço pra que as pessoas se relacionassem com ela. Em alguns momentos fazia do riso sua fuga. Conversava rindo das coisas mais estúpidas possíveis, fingindo-se feliz, tentando esquecer quem era, fugindo da realidade, tentando crer na mentira que criara. Até se tornar adulta nunca tinha tido um amigo de verdade, alguém que não a magoasse ou que nunca tivesse ido embora. Alguém que pudesse lhe ouvir e lhe dissesse que ia passar e que se não passasse não estaria sozinha.

Mas, Túlia sabia que não era alguém especial. Sabia que tinha muita gente como ela por aí, espalhada pelo mundo. Gente que como ela também já tinha se machucado. Gente que já tinha se ferido e causado estragos a sua volta quando buscava a cura para sua dor.

Contudo, naquela tarde quente, sentada observando o pôr do sol, ela tinha certeza de uma coisa: A vida é boa. Não que ela não ficasse triste de vez em quando. Porém, as coisas eram diferentes agora. Ela sabia que precisava crescer. E fez isso no momento certo. Precisava enfrentar seus medos sozinha. E se conscientizar que era mais forte que eles. E fez isso. E sentia-se quase feliz. Porque não era mais alguém impenetrável como aquela rocha de que era feito o banco em que descansava seu corpo inerte. Tinha se tornado mel. Tinha se transformado em amor. Porque amava. Amava o que era bom. E agora mais do que nunca sentia-se extasiada por apenas saber que havia ternura no mundo. Ternura que havia encontrado, também, nos amigos que fizera. Amigos cheios de defeitos como ela, defeitos terríveis, mas que eram característicos de todos os humanos. Defeitos de pessoas reais, que podiam amar. Túlia, em um dia qualquer, de repente se dera conta de que o amor era essencial à vida. Que sem ele nada somos. Desde então tentava pôr amor em tudo que pudesse.

Nesses momentos de reflexão Túlia esboçava um sorriso no seu rosto. Um meio sorriso que virava inteiro assim que via uma criança passar correndo atrás de um balão ou de mãos dadas com a mãe.

Quando o sol se pôs finalmente, Túlia olhou as horas em seu celular. 18:00h. Nem vira o tempo passar. Sabia que esses momentos que passava sozinha ponderando sobre as coisas eram importantes. Mas a vida estava aí. E tinha que aproveitar cada minuto. Fazendo coisas. Desejou ser feliz eternamente. Desenhou um balão na página final do livro que tinha nas mãos. Tinha adquirido recentemente essa mania deliciosa de desenhar balões. Cantou bem baixinho um trechinho de uma música... “Fala pra ele que a vida é um balão... pra cuidar do seu coração...”. Não queria que ninguém a ouvisse. Era o desafino em pessoa. Sorriu. Olhou o visor do celular novamente. 18:30. Contristou-se. Como ela deixava-se levar por seus pensamentos... Tinha que parar de ser tão redundante e não repetir tantos as coisas na sua cabeça. E não ser tão sentimental...

* Rebeca Cerqueira da Silva cursa Letras Vernáculas na Uefs.

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