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terça-feira, 2 de dezembro de 2014

LINGUÍSTICA HISTÓRICA: AS MUDANÇAS OCORRIDAS NA LÍNGUA AO LONGO DO TEMPO

Por Pâmella Araujo da Silva Cintra*


A língua é um complexo sistema em transformação, por isso, linguistas tentam compreender essas mudanças ao longo do tempo. A Linguística Histórica é a disciplina científica que se preocupa em interpretar as mudanças fônicas, mórficas, sintáticas e semântico-lexicais das línguas utilizadas por seus falantes ao longo do tempo histórico. Para isso, ela depende, diretamente, da filologia, ciência do texto, que fornece os dados.

Podemos perceber, ao comparar, por exemplo, a escrita dos poemas da época do português arcaico (séc. XIII) com a escrita do português moderno, que a língua passou por muitas mudanças, a exemplo, itens lexicais ou gramaticais como em “non ei ren do que desejo”, o substantivo ren desapareceu do uso corrente. Veja: “Calho nego pola ver”, o mesmo aconteceu com a conjunção ca. É possível também notar na comparação, que, no português antigo, os substantivos terminados em –or eram de dois gêneros, como no exemplo: “Ca mia senhor quiso Deus fazer tal”.

Na Linguística Sincrônica, são analisadas as características da língua, considerando-as estáveis, ou seja, imutáveis. Dentro de um espaço de tempo aparentemente fixo e, muitas vezes, curto. É nesse intervalo de tempo que se procuram detectar as características linguísticas de maior relevância daquele período escolhido. A partir daí, o confronto das diferentes sincronias de diferentes períodos configura-se no que chamamos de estudo diacrônico, cujo centro das atenções são as mudanças ocorridas na língua ao longo do tempo.

A Linguística Histórica possui uma vertente conhecida como Linguística Histórica Lato Sensu. Caracteriza-se por ser todo tipo de linguística que trabalha com corpora datados e localizados, ou seja, com dados que possam ser comprovados por meio da data (tempo) e do local (espaço). Portanto, não estuda a mudança linguística. A dialetologia é um exemplo de estudo que se baseia em documentação datada e localizada, podendo-se, então, incluí-la na chamada Linguística Histórica Lato Sensu, tal como, a Sociolinguística Laboviana.

A outra vertente da Linguística Histórica é a Linguística Histórica Stricto Sensu ou Tradicional. A ela interessa as mudanças ocorridas, o que muda e como ocorre a mudança na língua ao longo do tempo. Aqui sim, há a preocupação com o estudo da mudança linguística. Contudo, sabe-se ainda que há duas orientações para se trabalhar com a Linguística Histórica Stricto Sensu, são elas: Linguística Histórica Sócio-Histórica ou Linguística Histórica Social e Linguística Histórica Associal ou Linguística Diacrônica. A primeira, considera os fatores extralinguísticos e sociais (LÍNGUA-E), como é o caso da teoria laboviana da variação e mudança, que leva em conta o grau de escolaridade dos falantes, faixa etária, os diferentes contextos sociais e demais fatores. Já a segunda, considera apenas os fatores intralinguísticos, como é o caso dos estruturalismos diacrônicos. Em suma, a língua interna (LÍNGUA-I).

A Diacronia Sincrônica é mais uma forma de abordagem que se preocupa com as mudanças da língua, mas essa se diferencia por englobar, ao mesmo tempo, diacronia e sincronia. Entretanto, trata-se de fazer diacronia com uma mesma sincronia através do confronto de diferentes faixas etárias, em tempo aparente, e não de diferentes períodos. Ou seja, é observada a mudança de um mesmo fenômeno linguístico em um mesmo espaço de tempo, levando-se em conta apenas as diferentes faixas etárias envolvidas.

Outra maneira de se fazer um estudo diacrônico é através da Diacronia Tradicional, que, em parte, se assemelha muito ao conceito de Linguística Histórica, tendo como objetivo interpretar as mudanças ocorridas na língua ao longo do tempo. Esse estudo é feito por meio do estruturalismo e do gerativismo diacrônico, considerando a língua interna (LÍNGUA-I) e o confronto de sincronias.

Para os linguistas, o estudo histórico da língua é entendido de diferentes formas, com isso, foram desenvolvidas três vias de estudo: voltar ao passado e nele se concentrar, voltar ao passado para iluminar o presente, estudar o presente para iluminar o passado. Esta última é a via assumida pela diacronia sincrônica e que está também para a Linguística Histórica Lato Sensu, é o caso da Sociolinguística Laboviana.

Fica claro que muitas são as orientações teóricas pelas quais podemos direcionar nossos estudos quanto às mudanças ocorridas na língua. Mas é preciso deixar claro que todas aqui apresentadas muito contribuíram e ainda contribuem para o entendimento das mudanças ocorridas desde o português arcaico até o moderno, as distintas três vias pelas quais podemos optar buscar entender essas mudanças. Assim, a linguística Histórica é uma disciplina científica, cujo objeto de estudo é tão complexo e rico, que muitas são as teorias criadas.


* Pâmella Araujo da Silva Cintra é graduanda do 5º semestre do curso de Letras Vernáculas da UEFS.

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