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quarta-feira, 7 de junho de 2017

DISCURSO DE ORADORA

Por Cidalia Oliveira Barbosa Pinto*


Muito boa noite a todxs. Primeiramente, FORA TEMER! Dando prosseguimento, gostaria inicialmente de cumprimentar, com muita gratidão, cada familiar presente fisicamente e em espírito que está aqui esta noite, os quais estão sentindo nesse momento no coração o quanto foi preciso para formar seus filhos e estarem aqui todxs brilhando neste momento maravilhoso. Parabéns pra vocês! Cumprimento também o Magnífico senhor reitor desta casa, Evandro do Nascimento Silva, e a Magnífica – literalmente – vice-reitora, Norma Lucia Fernandes de Almeida, juntamente com essa mesa extraordinária que escolhemos com tanto amor. Agradeço também aos meus colegas pela missão de representar a turma com as palavras que proferirei, palavras estas que fui buscar dentro da alma.

Senti a necessidade de fazer uma homenagem ao nosso poeta recentemente falecido do corpo físico, Ferreira Gullar, com um poema chamado “Um instante”, que dialoga profundamente com o momento de hoje:

Aqui me tenho
Como não me conheço
           nem me quis

sem começo
nem fim
           aqui me tenho
           sem mim

nada lembro
nem sei

luz presente
sou apenas um bicho
           transparente

Que sejamos transparentes e inacabados no exercício do ensino por todo o tempo efetivo da nossa profissão! Pois então: compreendo o discurso de orador como um discurso essencialmente político. Confesso que não gostava de política, mas, pela educação, foi preciso gostar. Como falar em educação sem falar de política? O contexto político brasileiro atual abarca: a PEC do fim do mundo, da educação e da saúde, escola sem partido, reforma do ensino médio, um país golpeado, de feição conservadora, machista, patriarcal, homofóbica, doente. Uma junção de doenças que têm matado diversos brasileirxs diariamente. Fisicamente e interiormente. E hoje, o Brasil tem a nós. Oficialmente professorxs. E eu vos pergunto: e então? Nossa missão é uma missão de resistência. De trabalhar com o caos. De ter a consciência de que não somos máquinas conteudistas. Que acima de tudo, somos humanos tendo que ajudar outros humanos. Sim, ser professor é um trabalho de humanização, desconstrução, resgate de VIDAS da escuridão da ignorância. Ignorância esta que mata, oprime e exclui.

Percebam: as escolas estão parecidas com os presídios, e não é à toa que têm aprisionado mentes, seres capazes e pensantes, futuros críticos e colaboradores para o mundo. É preciso ter voz. Alta. Forte. Muito sangue foi derramado no decorrer da história para, sobretudo as mulheres, e especialmente mulheres negras serem professoras, bem como todos os grupos sociais que são marginalizados. Os cursos de licenciatura, em sua grande maioria, acolhem pessoas oriundas de classes sociais mais baixas, que são as primeiras de suas famílias a ter acesso ao ensino superior e à oportunidade de desenvolver um trabalho intelectual. Tal fato contrasta com a desvalorização da profissão e o sucateamento das escolas e a falta de investimento nos cursos de licenciatura, que os torna uma espécie de gueto, reduto dos pobres dentro da universidade, tão marcada por divisões de classe entre os cursos de rico e os cursos de pobre. As licenciaturas precisam parar de mascarar essa situação e, enquanto o ensino público não melhora, ajudar os alunxs e não empurrar para um novo semestre sem que esteja pronto para isso. Aguardemos ansiosamente a reforma do currículo e do ensino dos cursos de Letras, visto que é o curso que serve como base para todos os outros cursos e para a visão de mundo. As letras tecem o mundo, as letras são a política da vida, como diz Roland Barthes em seu livro Aula: “A linguagem é uma legislação”.

A sala de aula é um espaço democrático que tem sido sufocado porque eles reconhecem o poder de uma nação crítica. E eu vos pergunto novamente: e então? E nós? Profissionais essencialmente da leitura e da escrita, ferramentas de conhecimento do mundo, de reconhecimento da identidade. E como diz Rubem Alves: “Escrever e ler são formas de fazer amor”, e ainda complementa: “‎As palavras só têm sentido se nos ajudam a ver o mundo melhor. Aprendemos palavras para melhorar os olhos.” Temos duas armas poderosas nas mãos: a Linguística, ciência da língua, e a nossa língua mostra quem somos, e a outra, a magnífica Literatura, operadora da alma, a arte que mostra o que somos.

Sigamos juntxs pela educação, por um mundo melhor, pelos seres humanos, pela vida. É necessário educar as pessoas, e escolhemos isso. Arquemos com este maravilhoso desafio. Trabalho de formiguinha, profundamente efetivo. E quando alguém nos questionar sobre sonhos, ilusões e dizer que é loucura querer mudar o mundo,  que sorríamos. Essas pessoas são as que mais precisam de ajuda, e o mundo – vasto mundo – é o nosso espaço, é onde estamos, e se cada umx de nós transformarmos o lugar em que atuamos, já é muito, já é tudo.

Sendo assim, peço a ajuda dxs formandxs para repetir comigo a frase de uma das músicas mais marcantes do mestre Criolo:

“AS PESSOAS NÃO SÃO MÁS, ELAS SÓ ESTÃO PERDIDAS, AINDA HÁ TEMPO”

Que sejamos amor, ensinemos antes de tudo amor, porque AMAMOS A EDUCAÇÃO!

AGRADEÇO!



* Cidalia Oliveira Barbosa Pinto é graduada em Letras Vernáculas (UEFS) e mestranda em Estudos Literários (UEFS).

sexta-feira, 2 de junho de 2017

PERCEPÇÕES (TEXTO-POEMA)

Por Mariana Barbosa*


São admiráveis àqueles que vibram, sorriem ou apenas vivem!
Em contrapartida, há aqueles, que ao longo da caminhada,
esquecem das alegrias com os seus;
não percebem o olhar fraterno;
quiçá sabem recordar ou sequer viver.

E talvez jamais descubram o sentido da palavra saudade;
Do encantamento de um toque, do cuidado,
da presteza, dos sarcasmos, das bobagens...
Das buscas...
Das tentativas, certas vezes, frustradas.
Do desejo, ou até da falta dele.

Da angústia, do amar por amar...
Do querer apenas por saber-se desejado.
Dos momentos...
Eles que parecem existir apenas para aquele instante.
Das palavras não ditas...
E do silêncio capaz de tudo nos revelar.

Uns pobres diabos!
Usam o tempo ou a tecnologia como desculpa.
Seria fuga?!
Preferem fixar o olhar na TV e sorrir.
Disse sorrir?!
Isto, apenas.
Ironicamente gargalhar com a vida alheia.

E nessa ausência de reflexão...
Não percebem aquela biblioteca:
repleta de histórias e possibilidades.
Pobres!
Não sabem eles quanto poderiam ter vivido!

Falei de saudade, lembra?!
Quando esta vier...
Serão arrebatadores: a solidão, a angústia e o arrependimento.
Tudo isto dito, ainda assim, alguns teimarão em enxergar apenas o jardim ao lado.
Sem valorizar o simplório
mas, encantador pé de Esperança que há dentro da sua própria casa.


* Mariana Barbosa é graduada, especialista e mestre em Letras pela UEFS, Universidade Estadual de Feira de Santana. É professora e integra a equipe da revista Graduando: entre o ser e o saber.

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