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quinta-feira, 19 de julho de 2012

Lentes, mãos, peso... ação!


Por Danilo Cerqueira*

Durante quase todas as edições, sempre ficamos encarregados de pegar os exemplares da revista na Imprensa Universitária (IU). Foram 250 exemplares nas duas primeiras edições. Na terceira foram 300. Nunca foram pegos ― e entregues ― de uma só vez.
Pegávamos as revistas em caixas. Quatro a cinco caixas, ao todo. Revezávamos o transporte da carga da IU até a sede da revista entre nossos “membros” do (de+o) conselho. Infelizmente não tínhamos (mais plural do que os dois ou três envolvidos no transporte da carga) um carrinho para carregar as revistas. Era tudo feito a braço, que nem texto à mão (digitado ― ou até, vá lá, datilografado ― também vale ― ou valeu). Pegávamos as publicações da graduação em Letras e, passo a passo, vencíamos (com algumas paradas) os quase trezentos metros que separavam o local da impressão das revistas até a sede do periódico acadêmico. Pode-se pensar, durante o trajeto, no conteúdo das caixas. Pode-se pensar sobre a própria caixa, com um conteúdo cheio de conteúdos: iguais, mas também tão diferentes na unidade de uma publicação.
É um pouco difícil descrever o andar carregando tantas revistas num espaço acadêmico. Sentir o peso delas não é como sentir o peso do conhecimento. Ou é?... Nessa aparente ambiguidade, o tédio de uma piada (re)batida pode ainda arrancar um novo sorriso? O peso também gera dor física, além de certo desconforto psicológico. Alguém nos vê com um olhar de estranhamento, como se dissesse: Por que vocês não pedem ou esperam por um funcionário com um carrinho? Não se pode esperar para exercitar o corpo. Também não se pode esperar para atiçar a mente. E, ainda, não se pode perder a oportunidade de aliar os dois, mesmo numa piada sem graça que pode suscitar um sorriso novo.
Um par de óculos quase sempre carregaram as revistas da IU até a sede. Sim, dois objetos chamados óculos se dispuseram a fazer isso, pelo menos, nas três primeiras edições da revista Graduando. Para muitos parecia estranho ver pessoas que não estivessem de azul e branco fazendo isso (talvez, quem sabe, a presença dos dois óculos também fosse um indício estranho). Talvez nos sentíssemos tão ligados à universidade quanto os que são, por causa dela, assalariados, de carteira assinada, concursados. Também passei num concurso: o vestibular! Meu contrato, minha matrícula. Meu tempo de serviço, minha graduação. Preciso dizer que temos colegas de trabalho na universidade? Ou de trabalhos? Assalariados certamente também oriunda de sal... Derivações prefixais e sufixais: metafóricas!
Mas os trabalhos visam um produto. O produto é a revista. O transporte da maioria dos exemplares tem sido feito, pelo menos até momento, com o andar de membros, desde a gráfica até a entrega. Isso não é motivo para que o esforço seja valorizado. É mais importante, suponho, ser uma atividade cuja motivação espera por ser compreendida.
Penso que estamos dando um bom destino ao dinheiro público publicando (mesma raiz etimológica! ― e rima também) a Graduando. Não somos "a menina que roubava livros" do "livreiro de Cabul", mas, dentro de nossa proposta (e público leitor), somos bem vistos enquanto publicação. Também estamos carregando a revista pelas veredas de outros grandes sertões. Serão os sertões maiores do que as veredas ou as veredas maiores do que os sertões? Por enquanto, apenas carregamos, damos os passos e pensamos. E, claro, escrevemos também.

*Danilo Cerqueira é graduado em Letras Vernáculas pela UEFS, aluno do mestrado em estudos literários, também na UEFS, e integra o Conselho Editorial da Revista Graduando.

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