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sexta-feira, 1 de novembro de 2019

F.

Por Evair Teixeira e Silva*


No Brasil nunca roubei, não é na gringa que vou fazer isso. Esse povo estranho, frio, não fala comigo direito, aquele prédio de gente estranha, parece que colocaram todos os pobres juntos, até branco pobre tem. A fome bate cada vez mais forte. Estou cansado de comer todo dia a mesma coisa. Baguette, só tem nome chic, só tem casca, não dá para sustentar. Em que cilada fui me meter. Frio e fome. Nunca roubei lá, aqui não vou fazer. O iogurte e a pizza estavam ótimos, ninguém suspeitava de mim. Faz tempo. A geladeira é comunitária. Ainda bem, senão teriam desconfiado mais cedo. Eles sempre pensam que são os africanos roubando. Sou eu! Mas não dá mais. Preciso de feijão, preciso de carne, mesmo que seja aquela porcaria enlatada cheia de sal. Todo mundo rouba nesse supermercado mesmo. É chic no meu país, mas aqui é coisa de fudido mesmo. O pior é que tem sempre vários vigias. Nunca roubei! Vai ser só uma lata. Eles já me olhavam com suspeita mesmo. Mas se me pegarem? Já fiz escândalo uma vez lá, por me pararem, acho que não teriam a coragem de me parar novamente. Eles me olham com desconfiança sempre. Sempre. Nunca roubei lá, não é na gringa que vou fazer. Quanto frio. Fome e frio. Dedos doendo. A calefação do prédio é tão fraca, que dá no mesmo aqui ou lá dentro, não seca nem uma meia. Fome, esse estômago que não para de reclamar. Não foi esse país que me venderam. E se me pegarem? Já estou aqui em frente há tempos. Se ficar mais, eles vão desconfiar. Vamos lá, é hora de… não sei... Seja o que Deus quiser.


* Evair Teixeira e Silva nasceu em Muritiba, no recôncavo baiano, mudou-se para Feira de Santana para cursar Letras com Francês na UEFS. Atualmente desenvolve projetos e pesquisas  nas áreas  ligadas ao ensino-aprendizagem de línguas, cinema e literatura com enfoque nas questões étnico-raciais.

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

EVERYBODY HAS THEIR TALE OF WOE

Por Rammon Freitas*


Everybody has their tale of woe
In mine, you played a huge part
You lied, you made a fool ass of me
You also tortured me
Looking back, I gather you took
Chunks of satisfaction in seeing your soi-disant friend hurt.
You were mean, I dare say you had evil in you
But don’t we all?
I was hurt, muddled by the way you lied
And you lied
Lied with the ease of someone who’s lazing around.
But never you mind nonetheless, your lies were fragile
There were lies in bulk, so you failed to keep track of them all.
I was hurt, especially when I found out
I was hurt when I revisited those memories
I was so hurt that I cried…
A skill I thought I had lost long ago.
It doesn’t do to reminisce about it anymore
Recollecting is fodder for more pain and negativity
Especially when you are the remembrance
Now I’m going to move on
What with one thing and another,
That is the only thing left for me to do
And by doing so, I deeply hope you fall into an oblivion pit
And that’s how I intend to obviate the need of you
And that’s how I mean to rise above.


* Rammon Freitas é graduando em Letras com Inglês pela UEFS.

segunda-feira, 17 de junho de 2019

9: A CULPA É NOSSA!


Por Marcelo Oliveira da Silva*


Eram 9 também, mas era quinta, ou era sexta, não sei, já era mais de nove. Era outro mês também, era outro tempo. Era paz, quando eu declarei guerra, ainda pedi socorro, fui ouvido, mas a paz era conflito. Era manso, o coração. O olhar era tenso, era canhão em estado de festa. Olhares, subliminares. Toques, escanteios. Trêmulos lábios. Saiam! Saíram, cruzaram ruas e vielas, e nas entranhas das ladeiras eram correntezas de palavras vãs autodeclaradas futuras, construtivas e visionárias. Estávamos acompanhados de versos e experiências que nos levavam a ladeiras e desejos de intensos mais. Eram 9, acabara o primeiro ato de uma história finda.

Ouvimos, ouvi juras de carinho. Não eram juras, não as ouvi, quis escutá-las, as criei. Não era amor. Era. Era amor univalente, unilateral. Era passagem de ida, não tinha retorno. Eram mudanças. Em nove horas, nove mudanças: não estar mais onde estivemos e reaprender que momentos são únicos e não serão eternizados... opa, eram 9. Pois sete faltam, mas também noves fora é nada, e nada resultou.
Passaram dias, 9 precisamente, vivemos de promessas, outro encontro, antes das 9, quebramos o protocolo, mas fizemos melhor do que antes, fizemos diferentes, havíamos aprendido, queríamos mais, mas só mais naquele instante, um queria outros mais, outro um menos. Fomos nos distanciando. Espera, já somos distantes, viemos de outros mundos. Um terceiro momento, agora sim, eram 9, minutos de prazer, protocolo quebrado, não quiseram mais que estivéssemos, não queria, quero, quer, não quer. Quero! Não quero! Não queres, não tens!

Pedimos encontros, negados, nove no total, rompemos elos e elos não foram restabelecidos, talvez não serão, ou são. Fora um sonho, nove no total. Mas não foi culpa minha, eu apenas disse que queria e você não ouviu. Ouviu. A culpa é nossa, você dissera primeiro e eu não ouvi. Ouvi. Ei, eu falei primeiro, você que não ouviu. Ouviu. A culpa é nossa, falamos mansos, não fomos ousados. Fomos. Fui, vc não! Sim, a culpa é minha, fui intenso, você foi muito e depois menos, eu fui mais, quis mais, sou mais. Mas fui menos, menos que pude ser, menos que pude esconder, não escondi. Está aí minha culpa, nove vezes ter dito o que quis, está aí minha culpa, ser verdadeiro, honesto comigo, logo, com você. Você, aquele espelho do primeiro encontro após as nove, nove vezes te encarei e tentei não tocar teus lábios, tocamos. Está aí nosso erro, nossa culpa. Sim, nossa! Fomos nós. Agora são 9, já é domingo, não tem festa. Não subiremos ladeira alguma, não há palavras, não há olhares, não há lábios nem promessas não ditas. Cumpra-se. São 9, chegamos aqui. A culpa é minha, cheguei. A culpa é sua, não veio. A culpa é nossa, não fomos. São 9, nove somos. Noves fora, nada.


* Marcelo Oliveira da Silva é Licenciado em Letras Vernáculas pela UEFS.

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