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segunda-feira, 21 de maio de 2018

EU VI, EU LI, EU ESCREVI

Por Danilo Cerqueira*


Eu vi um colegial lendo um artigo de um graduando
Ele via e, meio que entendia, o que estava lendo
Ele não entendia tudo, mas lia, sempre aprendendo, imaginando
Ele, aos poucos, deixava de ser ele... Tornava-se nós

O colegial pensa enquanto lê, o graduando pensou quando escreveu
Os dois continuarão a pensar, em tempos e espaços diferentes
Seres de linguagens iguais
Um, para a pós-graduação, institucional ou não
Outro, pode ser, para uma outra certa graduação
Os dois, o mesmo caminho: um termo de paz
Com eles, sigo

Assim é: uma criança lendo um livro velho, mas novo
Ela ria, e rindo, o escritor do velho livro também ria
Ele não ria ali, ria lá, e lá ria mais do que a criança
Riso que atravessava gerações de risos...
e incentivava a criança a sorrir
Mesmo tempo

O que é a leitura, meu caro, minha cara?
O que tão bem nos encontra e coloca em raro existir!
O que tão bem nos aproxima do que jamais nos verá, e do que jamais veremos!
O que melhor te define sobre o que o futuro nos tornará!
O momento do conhecer sobre o pouco que nos torna humanos
O tratado escrito enquanto assinado
Em torno do que significa
No meu dia, que vivo
E nos unifica enquanto ficamos
Vivos!


* Danilo Cerqueira possui graduação e pós-graduação pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Atualmente, é professor da rede pública de educação do Estado da Bahia na cidade de Feira de Santana. Também é membro do conselho editorial da revista Graduando: entre o ser e o saber.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

UM POUCO DA VIDA E OBRA DE OLNEY SÃO PAULO, O ARTISTA QUE FEZ DA CÂMERA DE FILMAR SUA ARMA

* Por Rosana Carvalho


“Se o cinema não existisse (eu só não seria cineasta se o cinema não existisse) seria contista, pintor ou músico, nesta ordem” (Olney Alberto São Paulo).


Olney São Paulo nasceu na cidade de Riachão do Jacuípe em 7 de agosto de 1936, mas foi na cidade de Feira de Santana que começou a desenvolver seus dons artísticos e onde descobriu a sétima arte. Olney descende da mistura de espanhóis e portugueses que migraram para o Nordeste no período colonial. Era o filho mais velho do casal Joel São Paulo Rios e Rosália Oliveira. Foi em dezembro de 1948, quando ingressou no ginásio Santanópolis, que Olney descobriu o desejo de fazer cinema. A paixão pelo cinema, como ele mesmo dizia, surgiu na adolescência, frequentando os cinemas de Feira de Santana e já publicando artigos e críticas de cinema nos jornais locais.

Em 1954, o cineasta Alex Viany dirigia, no interior da Bahia, um episódio de um filme internacional na época chamado de Cinco canções. Passando por Feira de Santana, durante todo o tempo em que a equipe esteve na cidade, Olney tentou participar, acompanhando algumas tomadas de cena, e chegou mesmo a escrever uma carta para Alex Viany com o intuito de ser selecionado para participar das filmagens. Na carta, Olney confessa a Viany que chegou a forçar seu aparecimento em uma cena. Infelizmente, a cena foi cortada do filme. A equipe de Alex não aceitou Olney, alegando que a viagem até Canudos seria cansativa, já que na época Olney só tinha 18 anos. Na verdade, Olney não fazia questão da remuneração, ele queria mesmo era ser experimentado.

Olney São Paulo seria cineasta, mas faltava-lhe a experiência, o convívio com o meio, o que era praticamente impossível em uma cidade como Feira de Santana àquela época. Enquanto isso não acontecia ele ia fazendo seu aprendizado teórico, lendo livros, assistindo aos filmes que eram exibidos nos cinemas locais e, um pouco mais tarde, mantendo contato com a geração de cineastas que estava surgindo em Salvador. 

O primeiro filme de Olney foi filmado com uma câmara emprestada e a ajuda de alguns amigos. Olney foi diretor, câmara e ator nessa filmagem. O curta-metragem de 10 minutos foi intitulado de Um crime na rua e durante dois anos (1956-1957) foi exibido nas cidades do interior da Bahia, acompanhando os espetáculos teatrais de que Olney participava. Um crime na rua traria popularidade para Olney pelo pioneirismo na produção cinematográfica realizada no interior da Bahia, com recursos técnicos e artísticos locais.

Em 1959 Olney se casa com Maria Augusta, contra os protestos de sua mãe que o considerava muito novo para casar. Em 1º de janeiro de 1962 nasce o primeiro filho do casal, Olney Jr. Em 1967, Olney, Maria Augusta e os filhos Olney júnior, Ilya e Irving mudam-se para o Rio de Janeiro. Olney alimentava a esperança que, a exemplo do Rio de Janeiro e de São Paulo, a Bahia passasse a amparar melhor a indústria cinematográfica. Nessa época, o Brasil entrava em um dos períodos mais críticos da ditadura militar. Por ter feito um filme - um dos mais importantes de sua carreira, Manhã cinzenta, filmado em 1969 - Olney foi uma das personalidades mais injustiçadas da época, sendo preso e processado. Nunca comentou nada com a família e os amigos sobre os maus tratos e torturas que sofreu na prisão. No dia 11 de maio de 1971 nasce a filha de Olney, Maria Pilar, para dar um pouco de Alegria ao pai, em meio às frustrações do processo contra Manhã Cinzenta. Só em 13 de agosto de 1972 Olney foi definitivamente absolvido.

Desde sua prisão, em 1969, Olney sentia-se desprezado no seu trabalho no Banco do Brasil. Quando Olney chegava para sua seção no banco, sempre faltava alguma coisa, às vezes era sua cadeira, outras vezes sua máquina de escrever. Até que um dia Olney não encontrou sua mesa ele foi então, aposentado por invalidez contra seus protestos, antes mesmo dos 40 anos.
 
Foi nesse período pós-aposentadoria que Olney produziu o documentário que talvez seja sua melhor produção sertaneja: Sob o ditame de Rude Almagesto: sinais de chuva. O filme teve grande aceitação do público pela originalidade de sua temática e foi um dos vencedores da Mostra Nacional do Filme Documentário da Escola Técnica Federal do Paraná.

Na noite do dia 15 de setembro de 1978, Olney São Paulo morre depois de três paradas cardíacas com apenas 41 anos. A filha Pilar praticamente não tem lembranças do pai, quando ele morreu ela tinha apenas 6 anos. 

Olney São Paulo foi um artista fiel a sua gente e aos seus costumes, idealizou e concretizou muitos projetos que tinham por cenário o sertão. Muitas das produções de Olney eram rigidamente ligadas ao universo cultural sertanejo, focalizando as histórias, os costumes e a linguagem regional das caatingas. Essas palavras de Ângela José (1999: XX) sintetizam bem o grande artista que foi Olney São Paulo: “... com uma obra peculiar, pessoal, telúrica e humanística, Olney São Paulo se inscreve na aventura do cinema brasileiro como um dos seus personagens mais ativos, contribuindo com a discussão em torno da cultura brasileira, da cultura baiana e sertaneja, e no desenvolvimento da narrativa cinematográfica”.

Referências

JOSÉ, Angela. Olney São Paulo e a peleja do cinema sertanejo. Rio de Janeiro: Quartet, 1999.



* Rosana Carvalho é graduanda em Letras Vernáculas da UEFS e Bolsista de Iniciação Científica Probic/Uefs

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

MÚSICA, CINEMA E CULTURA: OLNEY SÃO PAULO EM "SINAIS DE CHUVA"

* Por Rosana Carvalho

Sob o Ditame de Rude Almajesto - Sinais de Chuva é um documentário rural produzido por Olney São Paulo em 1976. Esse curta-metragem tem argumento inspirado na crônica homônima do escritor feirense Eurico Alves Boaventura. O cineasta Olney São Paulo é natural de Riachão do Jacuípe, mas foi em Feira de Santana que Olney descobriu o amor pelo cinema e onde passou a desenvolver seus dons artísticos. Olney é mais conhecido pelo seu média-metragem Manhã Cinzenta, de 1964, que lhe rendeu prisão e processo durante um dos períodos mais críticos da Ditadura Militar. Ele sempre foi apaixonado pela temática sertaneja. Sinais de Chuva, segundo o próprio Olney, era um retorno a suas origens para documentar a preocupação do seu povo, no que se refere às condições climáticas da região.

Nesse documentário, o cineasta lança mão do diálogo com a literatura e com a música na construção dos significados para narrar a experiência do homem do campo em prever, nos sinais da natureza, se o ano terá ou não muita chuva no inverno. Trata-se de ensinamentos preservados na oralidade e transmitidos através das gerações como herança emocional. Sinais de chuva reproduz o lirismo e a cultura do camponês, seu apego pela terra e sua esperança em dias melhores.

Em Sinais de chuva, através do depoimento de Edgar Toledo, um sertanejo já idoso que viveu a seca de 1932, o espectador fica sabendo como ele percebe nos sinais da natureza se o inverno será chuvoso. A voz de Edgar em off se mistura com as vozes de outros dois camponeses, Valdenei, irmão de Olney, e Roque, que também contam suas experiências com a prática destes sinais: os ramos que o vento joga na estrada, quando o mandacaru floresce, quando o cupim cria asa ou a formiga avoa e até mesmo o cheiro da vegetação. Todo o depoimento é ilustrado com imagens da região onde vivem: as fazendas, os currais, o trabalho nas plantações, o hábito de pegar água nas cacimbas e os sinais de chuva (a lua no céu durante o dia, a flor do mandacaru, a neve na serra etc.).

As músicas que compõem a trilha sonora do documentário contribuem no processo de adaptação da narrativa literária de Eurico Alves em uma narrativa cinematográfica. Essas canções sertanejas dialogam com a temática da crônica e do documentário e ampliam o significado das imagens. Em alguns momentos do filme, enquanto os sertanejos explicam os sinais de chuvas, aparecem na tela imagens que ilustram esses sinais e, em alguns momentos, o espectador pode perceber, concomitante aos depoimentos, melodias das canções que também explicam os sinais. Por exemplo, quando um dos sertanejos explica o sinal de chuva indicado pelo marimbondo exu-caboclo, pode-se ouvir, como fundo sonoro, a melodia da música Marimbondo de Luiz Gonzaga cuja letra também explica esse sinal.

Bill Nichols distingue, na história dos filmes documentais, quatro estilos de produção, cada um com características formais e ideológicas próprias, a saber: o discurso direto, primeira forma acabada de documentário, o cinema direto, um terceiro estilo surgido a partir de 1970, que incorpora o discurso direto só que na forma de entrevista, e um estilo mais recente, auto reflexivo, que mistura passagens observacionais com entrevistas. De acordo com a essa divisão de estilo proposta por Nichols, o documentário de Olney desenvolve o estilo de cinema direto ou cinema verdade, pois suas cenas são construídas a partir de vivências reais acerca do assunto tratado, visando um efeito verdade através do imediatismo e da impressão de captura de cenas reais e diretas do cotidiano de determinadas pessoas, o que, segundo Nichols, caracteriza o estilo de cinema direto.

As crenças sertanejas para prever épocas de fartura de água ou para se preparar para avassaladoras secas, bem como o cotidiano da população sertaneja e seus saberes são exibidos de modo poético no documentário que reconstrói através de imagens a crônica de Eurico Alves e as canções nordestinas de Luiz Gonzaga. O documentário é formado por depoimentos de vivências reais no sertão e o descompasso entre as imagens e os depoimentos pode ser atribuído ao baixo orçamento do cinema brasileiro daquele momento. Em Sinais de chuva Olney reconstrói o ideário do sertão fabulando realidades, captando personagens em situações previstas ou improvisadas essa produção cinematográfica revela o imaginário do homem sertanejo com suas crenças acerca da chuva; situado entre o “cinema direto” e o “cinema verdade”, esse documentário vai além de reconstruir fábulas ficcionais das situações reais, ele é fundamental para discussão de aspectos importantes da cultura popular brasileira.

Referências

JOSÉ, Angela. Olney São Paulo e a peleja do cinema sertanejo. Rio de Janeiro: Quarteto, 1999.

NICHOLS, Bill. A voz do documentário. In: RAMOS, Fernão (Org.). Teoria contemporânea do cinema: documentário e narrativa ficcional. São Paulo: Editora Senac, 2005. p. 47-67. v. 2: documentário e narratividade ficcional.

NOVAES, Claudio Cledson. Aspectos críticos da literatura e do cinema na obra de Olney São Paulo. Salvador: Quarteto, 2011.


* Rosana Carvalho é graduanda em Letras Vernáculas da UEFS e Bolsista de Iniciação Científica Probic/Uefs

domingo, 18 de dezembro de 2011

Eu vi...


O Estranho mundo de Jack (Nightmare before Christmas)

Por Juliana Pacheco*

   Para entrar no clima de final de ano, nada melhor do que a resenha de um filme cheio do espírito natalino, certo? Quase certo. O estranho mundo de Jack, filme que traz no título original a referência ao natal, não é um filme sobre a festa baseada na união das famílias, no espírito de confraternização, muito menos nos momentos felizes que essas festas trazem. Não da forma tradicional.
  Começamos o filme nos dando conta disso, quando somos apresentados ao estranho mundo de Jack, como o título nacional o chama, a cidade do Halloween. Jack é o Jack Esqueleto, o rei dos sustos na cidade, uma espécie de celebridade que há anos é reconhecido como o melhor na festa de Haloween. Mas ele está cansado de tudo isso, entediado com a rotina que, ano a ano, não muda. O desmotivado Jack encontra, sem querer, a porta que vai para outra cidade, a Cidade do Natal, onde ele entra em contato com todas as coisas que ele não conhecia. Neve? Presentes? Doces? Velas? E quem é aquele tal de Papai Noel?
  Jack decide que é disso que ele precisa para mudar sua vida. O problema é que ele não consegue entender exatamente o que é essa magia que o Natal tem, nem consegue explicá-la para os outros habitantes da Cidade do Haloween. A solução é seqüestrar Papai Noel e fazer eles mesmos o Natal, para roubar esse sentimento.
  O filme foi produzido em stop motion (a técnica que feita com várias fotos dos objetos, com pequenas mudanças no posicionamento, para fazê-los parecer estar em movimento), em 1993.
Tim burton e os modelos dos personagens usados na produção
Ainda que a técnica tenha evoluído muito desde então, é incrível ver o trabalho realizado. Os três “mundos” do filme (a cidade do Haloween, a Cidade do Natal e o nosso mundo – que também aparece, já no final do filme) são extremamente complexos e bem criados, cheios de características, detalhes e belezas próprios. O visual pode ser considerado o maior trunfo do filme, já que a história contada pode não agradar a quem não é adepto dos filmes de fantasia. Ainda, o fato de ser um musical pode desagradar quem não gosta do gênero, mas as músicas criadas por Danny Elfman completam perfeitamente a trama, dentro do clima sombrio próprio do produtor, Tim Burton.
  Um filme diferente pra quem não agüenta a overdose do “clima feliz de Natal” e sabe que ninguém agüentaria 365 dias de musiquinhas, presentes, vermelho-e-verde e decorações piscantes. 






O estranho mundo de Jack (Nightmare before Christmas)
1993 - 76 min.
Direção: Henry Selick
Roteiro: Caroline Thompson (adaptado da ideia e de um poema de Tim Burton)

* Juliana Pacheco é graduanda em Letras com Inglês na UEFS e membro da equipe Graduando.

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