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quarta-feira, 29 de novembro de 2017

REPRESENTAÇÃO DO AMOR E SEU VALOR SOCIOCULTURAL NO ROMANCE "O PRIMO BASÍLIO "

Por Paloma Virgens Santiago*

No livro intitulado O Primo Basílio, o Eça de Queiroz, faz diversas críticas sociais, critica a sociedade burguesa, a formação da mulher portuguesa, a instituição casamento e procura quebrar a ideia de casamento por amor. Na época em que se passa a história, século XIX, as mulheres possuíam uma educação voltada somente para leitura de livros selecionados pelos pais, professores ou maridos.

Até meados do XIX, grande parte da população que tinha acesso à língua escrita era dotada apenas da capacidade de leitura, uma vez que os aprendizados da leitura, da escrita e do cálculo eram feitos em momentos dissociados e sucessivos (cf. Roche, 1996; Viñao Frago, 1999; Chartier, 2001; e Magalhães, 1994). Ser capaz de ler e incapaz de escrever era uma situação muito comum para o modelo de formação feminina. A capacidade de escrever confere ao seu detentor um poder simbólico e permite, ainda, a comunicação secreta, pessoal e possibilita uma independência "perigosa". (MORAES, CALSAVARA, SILVA, 2006) 

Além disso, eram educadas religiosa e obrigatoriamente. Para serem aceitas na sociedade e garantirem a sobrevivência, precisavam se casar. E foi o que Luíza e Leopoldina, personagens do livro, fizeram. Assim, Luíza casou-se com Jorge, para garantir a própria sobrevivência e a da mãe. Leopoldina também deixa isso bem claro, que não se casou por amor, referindo-se ao seu marido com palavras que expressam escárnio, nojo.

Antes da chegada do primo, Luíza era considerada pela sociedade da época uma boa esposa, possuía empregadas e uma vida confortável; porém, era solitária, tendo em vista que o marido passava a maior parte do tempo viajando. Descreve Jorge, seu marido, como homem ideal, não havia do que reclamar. Entretanto, pode-se perceber que Jorge a prendia muito e a tratava como uma criança, que não podia expressar as próprias opiniões, ter amizades próprias, e criticava sua amizade com Leopoldina, temendo que ela pudesse influenciar Luíza por conta do estilo de vida que levava, um estilo muito à frente do seu tempo, poderia ser considerada uma mulher com ideais feministas, que ama intensamente e vive amores proibidos, nunca foi feliz em seu casamento. Por conta da sociedade e dos valores morais que eram impostos, na época Leopoldina era considerada uma mulher vulgar. Levando em conta os aspectos supracitados, podemos perceber a crítica do casamento por amor, observando que ambas as personagens possuíam interesses em casar, influenciadas, é claro pela, pela realidade vivida por elas na época.

Após a chegada do primo de Luíza, a visão que a sociedade “lisboeta” possuía sobre ela cai por terra e ela passa a ser vista de forma diferente por todos, começam a comentar sobre as suas saídas e encontros com o primo. Luíza vê Basílio como o “Don Juan” que vê nos livros, sendo contaminada pela leitura. A partir daí, percebe-se a visão do autor que apresenta Luíza como uma mulher de ideais frágeis, completamente débeis e que podem ser facilmente corrompidos por conta de leituras e amizades. O autor expõe a figura feminina ao ridículo, mostrando que ela pode ser facilmente enganada. Eça de Queiroz traz sua cosmovisão, ou seja, o conjunto de opiniões que ele possui sobre a sexualidade feminina, sobre o papel da personagem como esposa e sobre a postura de fidelidade que a mulher tem que possuir no casamento. Em nenhum momento o autor diz que Jorge trai Luíza, porém, dá a entender que, em suas viagens, ele se envolve com mulheres. Entretanto, o personagem não é visto de uma forma ruim pelo autor. A culpa do adultério recai para a mulher, que deve ser sempre submissa ao marido.

Segundo a ficha de leitura encontrada no livro, o autor ataca a instituição casamento e mostra que a sociedade sempre será doente, tendo em vista que o casamento seria a raiz de uma sociedade, o início de uma família e nele já havia corrupções, mentiras, enganações. Fica bem claro também que isso não acontece apenas no casamento da personagem Luíza, mas também no casamento da personagem Leopoldina, já que a mesma não amava o marido e vivia paixões com intuito de descobrir um grande amor.

Típico romance de tese, o Primo Basílio critica a burguesia lisboeta, mais precisamente o ambiente doméstico de uma família burguesa de Lisboa. A obra faz a ‘’análise do casamento como núcleo de tal sociedade a provar que a corrupção do todo começa por ali, já que o casamento constituía a estrutura básica do sistema burguês. O adultério, consequência natural desses casamentos, faz-se lugar comum em tal sociedade. (CIRANDA, 2008, p. 376) .

REFERÊNCIAS

QUEIROZ, Eça de. O primo Basílio. São Paulo: Ciranda cultural, 2008.

CALSAVARA, Eliane de Lourdes; Morais, Christianni Cardoso; SILVA, Gisele Elaine da. Leituras “corretas” para mulheres “ideais”: educação moral do “bello sexo” para instrução da família e formação da pátria no século XIX. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DA ABRALIC, 10, 2006, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro, RJ, 2006. Disponível em: . Acesso em: 22 nov. 2017.

* Graduanda em letras com inglês pela Universidade Estadual de Feira de Santana – Departamento de letras e artes. E-mail: palomavirgens2015@gmail.com

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