*Por Danilo Cerqueira
Ele sempre soube que
seria um precursor...
Considerando as problemáticas do tempo e do aspecto verbal, lembra que talvez cada palavra saída
à boca ou à tecla, da cabeça ou das orelhas dos livros, tenha sido um suplício
para os que a liam ou, ainda, a ouviam. Entretanto, ao mesmo tempo em que
“sofriam a gramática” “profundissimamente hipocondríaco(s)”, ficavam, com o
tempo, mais fortes, pensavam mais rápido, concluíam mais cedo... E nem se davam
conta disso, os bobos – e as bobas!
Tudo talvez fosse
muito difícil.
“Lidar com palavras (e alguns
números, sejam sinceros) é a luta mais vã” (Drummond), “os moinhos de vento”
estão aí, nas mentes das pessoas... O professor deve fazer mesmo com que
descubramos a biruta que há em nós (“a”, pelo amor de Deus!), para fazer com
que encontremos a direção dos nossos caminhos ao vento.
Por isso ele é também é um
precursor. Não, não como é conhecido o célebre profeta que antecedeu a Jesus
Cristo, o qual, dizia de si mesmo em relação ao filho de Deus, não ser digno “de desatar a correia das suas
sandálias” (Jo 1. 27). O professor professa, mas sobre e para os outros “filhos do Homem”, por assim dizer e para os
que Nele acreditam.
Não tive tempo para informações
detalhadas, mas suponho que João Batista e Jesus Cristo nunca tenham se
encontrado até o batismo nas águas do rio Jordão. Sem nada a ver com isso
especificamente, apenas pela ocasião simbólica desse encontro, e considerando
essa função de professar e profetar (professorando), quando chegar o dia de ir
visitar o professor da escola do futuro filho (do homem – eu), pensarei
literariamente (ou espiritualmente) nessas palavras:
8 Se não foi isso, o que vocês foram ver, então? Um
homem vestido com elegância? Não! Os que se vestem com elegância estão por aí,
na corte dos reis.
9 Então, o que vocês foram ver? Um profeta? Sim, e
viram bem mais que um profeta.
10 É dele que a Bíblia fala, quando diz: “Eis que envio
meu mensageiro à frente de você; para preparar seu caminho”.
11 Eu lhes afirmo com toda certeza: entre os mortais
não apareceu ninguém maior que João Batista; no entanto o menor no Reino dos
Céus é maior do que ele. (Mt 11. 8-11, grifo nosso).
Acho, e até creio nisto: É claro
que, numa sala de aula, não há ninguém mais importante do que o que ensina, mas
também o que ensina deve sempre aprender com quem está ensinando: e ele pode
ser o estudante ou o professor. Logo, quanto mais difícil o aprendizado, quanto
mais problemáticas sejam as condições materiais, humanas e psicológicas do
educando (professor, aluno, estudante, graduando, aprendente, cliente etc.),
mais o professor se sentirá (ou deve se sentir) menor diante dele,
impossibilitado e impactado com a incapacidade momentânea em ajudar o outro a
aprender. Parte desse sentimento, por incrível que pareça, é necessário, mesmo
quando visivelmente inexistente. É preciso o mínimo de adversidade – o
imperceptível prazer em resolver uma simples questão – para que o professor
incite e aperfeiçoe, no educando, a vontade de estudar. Ensinar é aprender a
ensinar...
A própria condição do professor
lhe dá uma questão bastante trágica e heroica na sociedade: o seu real prazer e
felicidade talvez seja ver um ex-aluno numa situação de vida tal que seja, em
alguns aspectos... melhor que a dele! Não se fala aqui do professor como um “mártir
social” (ou, comparativamente religioso). Sua atividade, labor, trabalho e
função é ensinar... E nessa profissão, como seria então lidar com o potencial,
como medir – momentaneamente – o alcance de uma inteligência; de qual maneira (con)ter a
real proporção de quanto e como estão evoluindo intelectualmente os alunos de
uma turma?
É preferível ser, enquanto
professor, como João Batista: o menor do Reino dos Céus é maior do que ele; no
entanto, nenhum mortal – para quem acredita, ninguém mesmo – é maior do que
ele.
Adendo: é ele quem batiza o filho
do Maior no Reino dos Céus.
NOTAS
¹ Professor - 1 aquele
que professa uma crença, uma religião; 2 aquele que ensina, ministra aulas (em
escola, colégio, universidade, curso ou particularmente); mestre; 3 derivação -
sentido figurado: indivíduo muito versado ou perito em (alguma coisa). n.
adjetivo. 4 que professa; profitente. lat. professor, óris 'o que se dedica a'.
² Precursor - 1 que ou
o que precede, anuncia, prenuncia, prepara ou indica a vinda ou o acontecimento
de; que ou o que vai adiante, anuncia algo de novo ou se antecipa a (alguém ou
algo); 2 que ou o que se manifesta ou vem antes de ou dá origem a; 3 Rubrica:
bioquímica. diz-se de ou composto ou substância de que se formam outro composto
ou outra substância, esp. por um processo natural. lat. praecúrsor, óris 'o que
vai adiante, o que precede; explorador, batedor'.
Referências
Bíblia Novo Testamento. Tradução José Raimundo Vidigal. Aparecida.
São Paulo: Editora Santuário, 1989.
HOUAISS, A. Dicionário eletrônico Houaiss da língua
portuguesa. V. 3.0. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.
* Danilo Cerqueira é licenciado em Letras Vernáculas, especialista e mestre em Estudos Literários, todas as qualificações pela UEFS. Também é membro do conselho editorial da
Graduando.