* Por Rosana Carvalho
Esse ano, com os 50 anos do Golpe, mais
do que nunca pudemos observar, nos meios de comunicação ou manifestações
isoladas de grupos específicos, algumas homenagens às “vítimas” da Ditadura
Militar. Muros foram pichados, papéis distribuídos, mas o que pouca gente sabe
é que os torturadores do período estão espalhados por aí em nomes de escolas,
ruas e avenidas e, ainda que inconscientemente, são mais lembrados do que os
muitos personagens injustiçados naquele momento de opressão. Contudo, não é bem
do esquecimento relegado às vítimas da ditatura que me proponho a falar. Hoje,
quero lembrar-vos de duas personalidades que me foram apresentadas, a pouco
mais de um ano, pelo meu orientador o Prof. Dr. Claudio C. Novaes. Refiro-me às
figuras de Olney São Paulo e Eurico Alves, sendo que o primeiro,
coincidentemente, foi preso e torturado pela Ditadura Militar.
Olney é natural de Riachão de Jacuípe,
mas foi em Feira de Santana que Olney descobriu o amor pelo cinema e se
empenhou na difusão cultural entre todos os ramos da população. Eurico Alves
nasceu em Feira de Santana e aí viveu a infância e ingressou nos estudos que
concluiria um pouco mais tarde em Salvador. Mas, o que Olney e Eurico têm em
comum? Essa pergunta é simples, o que aproxima esses dois artistas é o amor
pela temática sertaneja, que movia a vida de ambos.
Olney São Paulo era apaixonado pelo
cinema, a sétima arte era o combustível da vida desse cineasta. Imbuído das
perspectivas cinemanovistas repercutidas na Bahia, hoje praticamente nenhum
livro que trate de Cinema Novo menciona o nome de Olney São Paulo. Essa pouca aparição do cineasta é semelhante ao apagamento dos
personagens marginais do sertão. Já Eurico Alves foi um dos fundadores e
representantes do Modernismo baiano, movimento literário que, pela postura
revolucionária e interesse pela cultura popular, chega mesmo a se aproximar do
Cinema Novo. O conjunto das obras desse autor e sua vida cultural também
continuam no esquecimento.
Quando falamos em Cinema Novo,
lembramos principalmente dos nomes de Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos
e Alex Viany. Vez ou outra o nome de Roberto Pires também aparece em alguma
nota, afinal foi ele o produtor do primeiro longa metragem baiano, o filme Redenção, e do grande sucesso de A grande feira. Mas, e de Olney São
Paulo, o diretor que produziu seu primeiro filme, Um crime na rua, utilizando uma câmera emprestada e a ajuda de
alguns amigos, quem é que lembra? Quem é que lembra dos filmes Manhã Cinzenta e Grito da Terra?
Olney São Paulo e Eurico Alves são
apenas dois exemplos, os outros são enumeráveis. Nos últimos 14 meses, os nomes
desses dois artistas não se afastaram dos meus pensamentos. Mas e quanto a
vocês, será que depois da leitura dessas breves linhas procurarão algum poema
de Eurico Alves para ler ou algum filme de Olney São Paulo para assistir? De
toda sorte, fica o convite. E, se tiverem interesse também, procurem pelos
nomes esquecidos, deem oportunidades para essas vozes.
Rosana Carvalho é graduanda em Letras Vernáculas e bolsista de iniciação científica Probic/UEFS. Tem como orientador o prof. Claudio C. Novaes.
Parabéns, Rosana.
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