Conceição
do Jacuípe, 12 de Junho de 2014
Excelentíssima
Presidenta do Brasil Sra. Dilma Rousseff,
Gostaria
de poder iniciar este texto parabenizando-a pela sua atuação positiva no
cenário da Educação em nosso país. Mas, como cidadão e educador, conhecedor de
meus direitos e deveres enquanto cidadão brasileiro, não posso compactuar de uma
hipocrisia tamanha. Escrevo-lhe acreditando que Vossa Excelência, com o poder
que lhe foi conferido, seja capaz de amenizar minhas angústias. Quero também
acreditar que a Excelentíssima disponibilizará de alguns minutos do seu tão
precioso tempo para ler meus lamentos, já
que não tenho a quem recorrer a não ser à autoridade máxima da minha terra, eleita pelo
povo brasileiro para defender seus direitos.
Tenho
verificado que o Sistema Educacional
brasileiro atual tem sido falho. Muitos
jovens ingressam no Fundamental II sem
habilidade para a compreensão de textos simples, e outros nem sequer conseguem
assinar o próprio nome. E então alguns insistem em pôr a culpa em nós, professores, pela
má qualidade do ensino. O acesso aos cursos técnicos com a finalidade de
qualificar a mão de obra para o mercado de trabalho tem crescido de forma
significativa, porém tem formado profissionais sem a devida qualificação; e ainda
assim a culpa recai sobre os docentes. Na Educação Básica, o governo
criou a progressão continuada, os ciclos, a avaliação contínua, a
recuperação paralela, tudo isso sem bons resultados; e a culpa também é do
professor.
É lamentável Excelentíssima, como o professor tem sido alvo neste
cenário. De quem seria a culpa afinal? Do professor que é mal remunerado e por isso não dispõe de ânimo para
executar o seu trabalho pedagógico de maneira responsável, ou do governo, que
investe mais em projetos pedagógicos de cunho político com o intuito de
mostrar à sociedade de que há um trabalho voltado para Educação do país, não se
importando com seus resultados? Do meu
ponto de vista, parece-me que esse modelo de Educação brasileira tem sido uma “cópia
xerografada” de outros países. Um exemplo disso é o Programa Mais Educação, que
propõe a permanência do aluno na escola, mas o espaço físico não comporta os
alunos em tempo integral diferentemente do que é proposto em países vizinhos.
Peço-lhe desculpa, Senhora Presidenta, mas não posso mais fingir que tudo
está perfeito. Sou graduado e pós-graduado, recebo um salário insignificante
equivalente a pouco mais que um salário mínimo e tenho que transformar a sociedade enquanto
que os senhores políticos, que em alguns casos não possuem nem o fundamental
completo, recebem valores incalculáveis
para desfilarem engravatados. E os jogadores de futebol que recebem milhões a
cada jogo? Então pergunto: Por qual estrada Excelentíssima ficou o lema de sua
campanha Brasil rico, e sem pobreza?
Não posso esquecer de mencionar nessas poucas linhas a respeito dos
Programas do FNDE juntamente com o MEC, nos quais Vossa Senhoria visa oferecer uma
Educação pública de qualidade. Mas, também não posso deixar de citar o quanto
são falhos. A exemplo posso citar o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), que visa a distribuição de livros
didáticos nas esferas estaduais e municipais, porém de forma precária, uma vez
que a distribuição é feita de acordo com o Censo Escolar do ano anterior, deixando dezenas de alunos sem livros se
no ano em curso o número de alunos matriculados for superior.
As cotas. De que adianta Excelentíssima popularizar o ingresso de
estudantes nas Universidades Públicas se a Academia não está preparada para
recebê-los e nem tão pouco os profissionais se predispõe a atender a diversidade? Muitos desses alunos vêm de escolas públicas
com todas essas problemáticas citadas anteriormente.
E quanto às avaliações externas como SAEB, prova Brasil e
provinha Brasil, servem para quê mesmo?
Acho que já sei a resposta, Presidenta, mas me corrija se estiver enganado. Certamente se o resultado for
positivo será fácil mascarar o IDEB e dizer que no Brasil não há analfabetos,
mas se o resultado for negativo, mais uma
vez servirá para autoafirmar que o problema está na formação do professor.
Será que acertei?
Talvez, Presidenta Dilma, eu seja um sonhador, mas prefiro mesmo sonhar
com professores satisfeitos com seus salários e menos injustiçados. Sonhar com
meus alunos num sistema educacional que atenda as suas expectativas e que de
fato funcione. Mas não basta sonhar, é preciso concretizar, e a Excelentíssima
pode idealizar este sonho que não é só meu, mas de todos os educadores
brasileiros.
Desde
já espero que me desculpe por tamanha ousadia e meus sinceros agradecimentos
pela vossa atenção.
Sandro
Guimarães da Mata
Aluno
de Letras com Língua Inglesa
Universidade
Estadual de Feira de Santana
* O texto publicado foi apresentado com trabalho requerido
pela disciplina Política e Gestão Educacional, do Curso de Licenciatura em
Letras com Língua Inglesa, da Universidade Estadual de Feira de Santana.
Seu texto expressa muito bem a realidade da educação no Brasil! uma educação falida que não consegue ao menos reconhecer que precisa de mudanças urgentes e de valorização do profissional que trabalha na educação. Enquanto isso os alunos saem da escola sem ao menos ter consciência do que é ser cidadão!
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