Por Neila Brasil Bruno*
Desde que lançou seu
primeiro livro, Cafeína, em 2008, Victor Mascarenhas vem criando, com segurança, textos
que o colocam em posição de destaque no cenário baiano da literatura. Dono de
uma escrita precisa e clara, seu estilo versátil tem conquistado leitores. Um
certo Mal-estar é um livro de contos, o quarto publicado por Victor
Mascarenhas. O escritor também atua como roteirista e publicitário.
Em Um certo Mal-estar, é
possível notar um interessante processo de construção ao considerarmos suas estratégias
narrativas: é um livro com treze contos, escritos numa linguagem concisa e objetiva
– onde a ficção e o cotidiano estão entrelaçados. Para tanto, o autor apresenta
a vida ordinária das personagens em mínimos detalhes. Através de um estilo
próprio e enxuto, o leitor é direcionado para histórias de vidas comuns por
meio de uma linguagem às vezes coloquial, que se revela inovadora.
Neste post, eu gostaria de tecer algumas
reflexões sobre o conto intitulado “ela”,
onde o autor cria personagens misteriosas, sobre as quais descreve e insere
o que imagina, interessando e envolvendo o
leitor. O conto traz a seguinte epígrafe: “O
seu amor é uma mentira que a minha vaidade quer” (CAZUZA). A citação pode
estar ligada ao conflito amoroso vivido pela personagem “Ele”. É interessante
pontuar que as personagens não recebem nomes próprios, mas são simplesmente
denominadas como “Ele” e “Ela”.
Narra-se no conto um
vínculo conflituoso entre um homem e uma mulher. A mulher representada não é
uma mulher submissa; ao contrário, trata-se de uma figura feminina extremamente
livre em relação aos próprios sentimentos e aos sentimentos do outro. No transcurso
da história, o narrador discorre, em minuciosos detalhes, sobre os sentimentos
conflituosos e perturbadores da figura masculina em relação a “Ela”: Seria angústia por amá-la? Teria “Ela” olhos
de ressaca como a personagem Capitu de Machado de Assis?
Enfim, parte da
história acontece num quarto de hotel, em uma cidadezinha, durante uma noite
fria. É o cenário favorável para um encontro amoroso. Mas “Ele” parece não se
entregar totalmente àquele encontro, pois “Ela” pode ser simplesmente o abismo.
No encontro de ambos, “Ele” não saberia definir se sentia tristeza ou
felicidade; o fato é que se tornara praticamente um prisioneiro daquela
relação. Para definir esse relacionamento conflituoso
entre os dois, aproprio-me das palavras do poeta Carlos Drummond Andrade: “Este é o nosso destino: amor sem conta,
distribuídos pelas coisas pérfidas ou nulas, doação ilimitada a uma completa
ingratidão...”
Assim, no conto “Ela”, como
em outros contos do autor, é apresentada uma construção narrativa dinâmica e
muito criativa, capaz de convidar os leitores para uma reflexão sobre situações
do cotidiano que podem acontecer com qualquer indivíduo. Nesse jogo entre
ficção e realidade, refaz-se o mundo da vida, permitindo novas perspectivas
críticas ao potencial receptor dessas histórias, que, revestidas com um tom
crítico e algumas vezes até humorístico, levam o leitor à descoberta do real.
Esse conto pode ser conferido, na íntegra, em Um certo
Mal-estar, que será lançado pela Solisluna editora em 19 de novembro,
às 18:00, pela livraria LDM no Espaço Unibanco de Cinema – Glauber Rocha.
Posteriormente, acredito que o livro poderá ser adquirido pelo site da editora, http://www.solislunaeditora.com.br.
REFERÊNCIAS
MASCARENHAS,
Victor. Um certo Mal-estar. Lauro
de Freitas, BA: Solisluna Editora, 2015.
* Neila Brasil Bruno é
Mestre em Letras, e professora da Rede Estadual da Bahia, possui várias
publicações de artigos na área de Literatura Infantil e Juvenil. Em 2013,
publicou pela editora EDITUS – UESC, o livro infantil Maricota e as formigas. E-mail: neilabbrasil@hotmail.com.
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