* Por André Ricardo Gomes dos Santos
– Grande homem...! Era o que ouvia quando saía de casa com aquela sonolência diurna. O trabalho lhe esperava, e aquele cidadão com aquele cachorro sujando toda sua calçada até tornava o escritório um bom lugar para se estar naquele dia. – Olá vizinho! Cumprimentava por educação e saía o mais rápido possível, antes que seu lado homicida falasse mais alto. No seu carro tudo parecia melhor, cheirinho de couro novo, ar gelando, até esquecia para onde estava indo. Mas essa sensação não durava quinhentos metros, o semáforo estava na cor que ninguém gosta. Lá vem esse menino remelento com suas varetas de malabarismo arranhadoras de importados, ele pensava, e o pobre operário mirim das ruas, estendia o braço mesmo sabendo que daquele engravatado nem um centavo sairia, como sempre. O farol verde dá uma esperança, e o Corolla desloca suavemente, deixando o que para ele era mais um bípede inútil para trás. Trinta minutos para chegar à multinacional, e seu automóvel começava a não ter o mesmo conforto, doutor pra lá, doutor pra cá era o que ele sabia que iria encontrar, e chingamentos e maldizeres pelas costas, é claro, pois ninguém gostava daquele carnívoro dos negócios; ou inveja, ou medo, ou raiva, ou todos juntos o que era o mais comum, e ele sabendo disso e rindo e tomando café fraternalmente com seus subalternos, como se fosse tudo um mar de rosas. E vinte minutos para o destino e o que ele vê, ou melhor, escuta, é uma ópera desafinada de buzinas, um acidente, logo a frente, pelo pouco que podia ver, era uma motocicleta, ao lado da via num local arborizado, sem o piloto e toda despedaçada. Mais um jovenzinho vendendo água mineral entre os veículos inertes, e dessa vez ele baixa o vidro, mas não para ajudar, e sim para indagar o que acontecia: – O que se passa moleque? Ele pergunta. – O caminhão passou por cima do playboy na moto, doutor! Responde o menino. – Só podiam ser esses suicidas inveterados, bem feito, menos um! Diz ele. O ambulantizinho até sai de perto, pela violência da vociferação daquele maléfico ser, o qual, o que mais desejava é que tirassem logo aquele cadáver dali, para poder seguir seu rumo. Os policiais desviam o trânsito e os pneus voltam a cumprir sua obrigação, ele já estava cinco minutos atrasado, mas ainda deu tempo de ver seu irmão morto no asfalto.
* André Ricardo Gomes dos Santos é estudante do oitavo semestre de Letras Vernáculas na UEFS.
Parabéns, André! Seu texto mostra o cotidiano de nossas vidas "modernas"...a correria do dia a dia, nos leva a esquuecer a bondade com o próximo. Feliz natal.
ResponderExcluirObrigada! Um ótimo Natal para você também!
ExcluirGostei!!! Apesar da correria do dia a dia , temos que nos policiar para não esquecer certos valores bondade, respeito e educação ao próximo...
ResponderExcluirMuito bom texto André, e se posso colocar desta maneira: um acertado retrato do que nos acontece quase que diariamente, nas ruas e estradas, nas nossas TVS e nos nossos noticiários trazidos pelo rádio. Infelizmente poucos ainda se detém na palavra escrita para repensar seus atos mediante os outros.
ResponderExcluirPAZ E LUZ SEMPRE
Nossa! que texto tocante, é realmente, as vezes ligamos o "piloto automático" e não nos demos conta do que realmente esta acontecendo ao nosso redor, é por isso é é necessário o equilíbrio, para que não se perda a sensibilidade do que realmente importa, o ser humano, parabéns peo texto, adore :D
ResponderExcluirOra aqui um texto com principio, meio e fim que dá gosto de ler :)
ResponderExcluirInfelizmente isto aqui no Brasil, já virou realidade, ontem mesmo no jornal daqui, passou uma reportagem parecida com seu texto, o motoqueiro estava indo pro trabalho e a esposa estava no outro lado da via, quando viu um carro que bateu na moto, o marido caiu, o caminhão não conseguiu parar e ele morreu, tragico como sua historia
ResponderExcluirOlá André!
ResponderExcluirParabéns pelo texto, você escreve muito bem. Infelizmente é essa a realidade do mundo atual...
Parabéns André, você realmente escreve muito bem.
ResponderExcluirhttp://triestilosa.blogspot.com.br/
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