Por Ilana Benne Falcão Maia*
“Uma Cultura de Paz é um conjunto de valores, atitudes,
tradições, comportamentos e estilos de vida baseados: a) No respeito à vida, no
fim da violência e na promoção e prática da não violência por meio da educação,
do diálogo e da cooperação (...)” (Declaração da ONU sobre uma Cultura de Paz,
1999). Será que os professores estão preparados para enfrentar nas salas de
aula, além de sua habitual jornada de trabalho, a violência da parte dos
próprios alunos? A boa relação professor-aluno é essencial para o aprendizado e
para que o ensino seja satisfatório. Segundo a declaração da ONU, a educação é
um dos meios de se modificar a cultura da violência, mas, infelizmente o que
presenciamos atualmente é algo bem diferente: professores sendo agredidos por
alunos quando esses deveriam respeitá-los e professores fazendo o mesmo quando
o aluno deve ser acolhido. A violência
vai desde ofensas verbais a agressões físicas, rebeldia, chegando a extremos
como ameaças, alunos que portam facas e armas de vários tipos dentro das
escolas. Isto afeta não só a instituição em si, mas também a sociedade como um
todo, sendo as principais vítimas os próprios. Logo, a aprendizagem escolar
fica prejudicada. O objetivo principal deste texto é refletir sobre a violência
no ambiente escolar e porque ela acontece, o que desencadeia tais
comportamentos.
Entendemos
por violência a ação de intimidar, causar dano físico ou moral a outra pessoa.
Tais agressões podem causar danos a curto ou longo prazo. No caso da violência
escolar, as ações podem prejudicar não só a vida social como a aprendizagem do
aluno, a qualidade de trabalho do professor e todo o sistema escolar.
A
atual situação da educação no Brasil é de descaso, tanto na qualidade do ensino
quanto nas condições de trabalho de professores e funcionários. O quadro de
violência contra professores e alunos vem aumentando a todo o momento. É como
se alunos e professores “não falassem a mesma língua”. De onde surge tanta
intolerância? Faltam políticas públicas para resolver esta situação tão alarmante.
O levantamento de respostas da Prova Brasil mostra que, em 2007, cerca de 2,3%
(6.677) dos professores afirmaram terem sofrido agressões de alunos. Em 2011 os
números continuaram similares. Para a pesquisadora Mirian Abramovay, da UNESCO,
todo esse quadro é reflexo do descaso na educação. Para ela, a “estrutura da
escola remonta ao século XIX, professores dão aulas como no século XX e alunos
vivem conectados ao século XXI”, há então um descompasso. Ainda segundo a
pesquisadora, a violência não é consequência do ambiente em que a escola se
encontra. Tanto escolas públicas quanto particulares sofrem com essa triste
realidade. Jorge Wherthein, ex-presidente da UNESCO, diz que “uma nova cultura
da solução não violenta dos conflitos deve começar na escola.”
Percebe-se
que hoje o maior problema é o desgaste da instituição familiar, desajustes
familiares, falta de planejamento, enfim, diversos fatores que contribuem para
que o jovem viva em uma estrutura pouco sólida e com bons exemplos. Içami Tiba
(2009) diz que a família, assim como uma equipe, deve trabalhar em conjunto, um
em prol do outro. A falta de estrutura familiar é independente de classe
social, mas, sobretudo, percebe-se sua ocorrência mais frequente em classes mais baixas, devido à
falta de planejamento familiar.
Segundo
o guia Diálogos e Mediação de Conflitos
nas Escolas, escrito pelo promotor de Justiça no Estado de São Paulo: a
escola é palco de uma diversidade de conflitos, sobretudo os de relacionamento,
pois nela convivem pessoas de variadas idades, origens, sexos, etnias e
condições socioeconômicas e culturais. Todos na escola devem estar preparados
para o enfrentamento da heterogeneidade, das diferenças e das tensões próprias
da convivência escolar, que muitas vezes podem gerar dissenso, desarmonia e até
desordem. (2014, p. 26).
É
justamente neste ambiente heterogêneo que o professor deve, portanto, fazer seu
papel de mediador. Numa mesma sala de aula, podem encontrar-se um aluno que tem
problemas familiares sérios de violência doméstica, uso de drogas, alcoolismo,
abuso sexual, por exemplo, com uma criança ou jovem que viva num ambiente
considerado “saudável” para seu desenvolvimento.
Porém,
a escola sozinha não pode resolver todos os problemas. Existe todo um contexto
envolvido: político, religioso, comunidade, principalmente, a família saber que
a educação parte de casa. Caso a base familiar do indivíduo não seja tão
sólida, a escola entra como mediadora, através de projetos para melhor lidar
com aquele aluno. Com isso, percebemos que os cursos de licenciatura e pedagogia
não têm preparado os professores para lidar com situações extremas na sala de
aula. Existe uma lacuna muito grande entre a teoria e a prática, o que
dificulta a aprendizagem em situações extremas, como a violência física por
exemplo. Uma professora pode dominar perfeitamente a teoria, foram anos de
estudo para isso, porém, ela não está preparada para reagir adequadamente caso
seja agredida por um aluno.
A
desvalorização do professor, hoje em dia, é tanta que a violência contra ele
chega a ser banalizada. Existem dois lados a serem observados: a família como
estrutura e base para a criança, para formação do seu caráter, e a escola que
deve estar preparada para tais situações, priorizando o ensino e a formação do
cidadão. Esta, também, deve visar o bem estar do aluno para que sua permanência
na escola seja sadia e não traumática. Essa realidade não existe somente nas
escolas públicas. Apesar do pouco investimento em educação, das más condições
com que muitos professores dão aula, e de toda a precarização em que o sistema
de educação pública se encontra, nas escolas privadas também acontecem casos de
violência entre professores, alunos e funcionários. É então que surge o
questionamento de se o meio é que realmente influencia para a violência. O medo, a
falta de experiência de muitos profissionais, traumas por já terem presenciado
episódios de violência, preconceito contra alunos de classes mais baixas, falta
de preparo dos cursos de formação de professores, enfim, diversos fatores que
só dificultam o processo ensino-aprendizagem, visto que este está abalado pelos
constantes episódios de violência no âmbito escolar.
Vê-se
cada vez mais ser atribuído à escola o papel de educar. Transfere-se para a
instituição “escola” a responsabilidade que antes era dos pais, ou deveria ser.
A imagem dos pais presentes na vida do filho tem função emocional. A família é
formadora do caráter que aquele indivíduo irá possuir. É difícil para a escola,
abrigando tantas realidades diferentes, dê conta da educação no sentido de
estrutura emocional, de formação de caráter, de todos seus alunos. O que se
observa é esta transferência da responsabilidade de educar dos pais para a
escola. Isso gera uma desestrutura na formação da criança que poderá se tornar
um jovem sem bons exemplos, sem base, e isto pode então culminar em
comportamentos violentos no ambiente em que ele passa a maior parte do seu
tempo, a escola.
Ainda
que um dos fatores da disseminação da violência escolar seja a falta de
estrutura familiar adequada, a forma com que professores e alunos lidam entre
si também interfere neste processo. Segundo Abramovay
(2002, p.29), “um outro fenômeno associado a situações de violência é a
disponibilidade de armas de fogo e as mudanças que isso impõe às comunicações
conflituosas, contribuindo para o aumento do caráter dos conflitos nas escolas.”
A
educação é fenômeno de interação entre escola, família, comunidade, governo,
todos que direta ou indiretamente contribuem para que a educação funcione. O
professor dentro dessa teia de responsabilidades tem obrigação de acolher e
expandir os horizontes do aluno, mostrando-lhe caminhos para aprender,
praticando também o afeto, amparando-o. Mas, sozinho é quase impossível.
Necessário se faz que a escola desenvolva projetos com a participação de todos
para diminuir esse grave problema.
* Ilana Benne Falcão Maia é graduanda em Letras Vernáculas da UEFS.
Nenhum comentário:
Postar um comentário