Por Danilo Cerqueira*
Fonte: blog Palazzos Codomínios |
Talvez quatro personalidades
sejam necessárias para as formulações de um conselho: a idealista, a
incentivadora, a pé no chão e a articuladora. Nesse quadripé formam-se e
formulam-se ações para suportar as intempéries dos momentos controversos
entre representatividade e coletividade. Falar de pessoas não é tão importante,
em raríssimos momentos, quanto falar de suas personificações, características
ou potencialidades. Creio que este é um dos tão pincelados momentos, porque o
mais importante, no caso de uma revista acadêmica da graduação para graduandos
em letras de nossa instituição pública, não deve ser a pessoa que exerce a
função ou sua personalidade, mas o que de contribuição ela oferece para uma
concretização reconhecidamente benéfica do projeto para o grupo criador,
executor e atendido. Creio ainda mais que existe uma relação além das
potencialidades de cada um, somente constatada quando há reunião e sintonia
entre olhares e ideias, admirações e respeitos, mútuos, no espaço
representativo e no seu público, ambos coletivos.
Quanto ao ideal e às ideias, elas
formam as novidades, e estas movem os dias, o que seria uma redundância: todos
os dias, por mais que não acreditemos, novos (ou renovos) pensamentos emergem
de nossas cabeças. Um mesmo alimento, consumido diariamente, pode possuir
normalmente as mesmas substâncias, mas a sua singularidade está, por exemplo,
no momento em que o escolhemos e em nossa disposição quando o consumimos. Como ali-pensa-mentos, as ideias dão a
certeza que não tivemos morte cerebral, embora às vezes pereçamos estar em um
conhecido estado vegetativo (isso me lembra plantas, o que, pra mim, é uma
confluência semântico-ortográfica com incoerência de sensibilidade).
O incentivo é tão importante
quanto as ideias: sem estímulo para a criação e a execução das atividades (sair
das raízes) propostas e planejadas (ou mesmo para a discussão), não existe
grupo. Para estar numa constância, sentir vivacidade individual e coletiva, algo
de não palpável ou objetivo precisa nos impulsionar. Um riso, uma palavra
amiga, uma piada, uma pirraça ou uma personalidade pirotécnica são traços do
que seria uma pessoa incentivadora. Ter isso em reuniões é, sem a demonstração
forçada dessas características, um alento às agruras cotidianas em nossas lutas
internas — e,
paradoxalmente, para os outros e pelos outros.
Mas alguém precisa exercer a
gravidade em torno da qual todos nós precisamos fazer as coisas, dizer que
existe o mundo concreto e burocrático... que não se deve apenas combatê-lo com
o pensamento positivo. Devemos mesmo agradecer a alguém por nos mostrar a
dúvida entre o que nos pesa mais: a gravidade do mundo ou a gravidade das
coisas, ou seja, a atração que a Terra
exerce nas coisas (e pessoas) ou a
força que as coisas exercem "na gente".
Qualquer relação com o triângulo de incêndio não é mera coincidência. Assim,
saber de nossas limitações (como também do meio em que estamos) é importante
para transformarmos as ideias em ação de maneira estimulante, incentivando a
continuidade e certeza de sucesso às próximas gerações.
Às próximas gerações... As
próximas gerações precisam de provas de que as coisas dão certo... Essa talvez
seja a tarefa mais delicada do projeto que se pretende permanecer. Ainda que os
mais internamente envolvidos estejam certos de sua importância, é preciso
provar e prover a segurança de sua continuidade por meio de uma forma de
execução que contribua para a didática realização das atividades, na qual se
vislumbre a certeza de que é possível para qualquer pessoa realizá-la, com alcance
e êxito num futuro próximo e próspero. Esse espírito ou disposição para
articular também precisa estar presente. Mesmo que tenhamos a ideia, o
incentivo e a gravidade das coisas, onde estaria o momento de organização e
feitura de nossas atividades? Como provocar em quem ouve e vê (ou apenas ouve
ou apenas vê) a mesma determinação em aprender e contribuir com o que está à
frente e ao alcance das mãos. Uma boa articulação, penso, deve ser, em nosso
meio, entendível e promotora, insuflável e imperecível, didática e
compartilhável. Imagino que a capacidade de demonstrar articulação inspira o
compartilhamento da mensagem, o que proporciona a inebriante sensação de
inclusão quando sentimos e quando comentamos sobre ela, ainda que a censura
seja maior do que o elogio. A prova do entendimento marca a existência da
articulação, fruto de que existiu (algum) planejamento. Nos casos exitosos, as
ideias deixam de ser insossas, o incentivo passa da euforia ao entusiasmo... e o
chão com a gravidade se combinam, formando o caminho e a perspectiva, a
criatividade (mais idealista e animada) e a inteligência (mais realista).
Acho que acabei encontrando mais
uma metáfora para meu texto: com quase 75% de água, calor humano, um planeta
inteiro onde morar e ar quase à vontade, uma criança, brincando com um cone,
começa a falar.
* Danilo Cerqueira é graduado em
Letras Vernáculas pela UEFS, cursa o mestrado em Estudos Literários na mesma instituição e é membro do conselho editorial da revista
Graduando.
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