Por Danilo Cerqueira*
Durante quase
todas as edições, sempre ficamos encarregados de pegar os exemplares da revista
na Imprensa Universitária (IU). Foram 250 exemplares nas duas primeiras
edições. Na terceira foram 300. Nunca foram pegos ― e entregues ― de uma só
vez.
Pegávamos as
revistas em caixas. Quatro a cinco caixas, ao todo. Revezávamos o transporte da
carga da IU até a sede da revista entre nossos “membros” do (de+o) conselho. Infelizmente
não tínhamos (mais plural do que os dois ou três envolvidos no transporte da
carga) um carrinho para carregar as revistas. Era tudo feito a braço, que nem
texto à mão (digitado ― ou até, vá lá, datilografado ― também vale ― ou valeu).
Pegávamos as publicações da graduação em Letras e, passo a passo, vencíamos
(com algumas paradas) os quase trezentos metros que separavam o local da impressão
das revistas até a sede do periódico acadêmico. Pode-se pensar, durante o
trajeto, no conteúdo das caixas. Pode-se pensar sobre a própria caixa, com um
conteúdo cheio de conteúdos: iguais, mas também tão diferentes na unidade de
uma publicação.
É um pouco
difícil descrever o andar carregando tantas revistas num espaço acadêmico.
Sentir o peso delas não é como sentir o peso do conhecimento. Ou é?... Nessa
aparente ambiguidade, o tédio de uma piada (re)batida
pode ainda arrancar um novo sorriso? O peso também gera dor física, além de
certo desconforto psicológico. Alguém nos vê com um olhar de estranhamento,
como se dissesse: Por que vocês não pedem ou esperam por um funcionário com um
carrinho? Não se pode esperar para exercitar o corpo. Também não se pode
esperar para atiçar a mente. E, ainda, não se pode perder a oportunidade de
aliar os dois, mesmo numa piada sem graça que pode suscitar um sorriso novo.
Um par de
óculos quase sempre carregaram as revistas da IU até a sede. Sim, dois objetos
chamados óculos se dispuseram a fazer isso, pelo menos, nas três primeiras
edições da revista Graduando. Para muitos parecia estranho ver pessoas que não
estivessem de azul e branco fazendo isso (talvez, quem sabe, a presença dos dois
óculos também fosse um indício estranho). Talvez nos sentíssemos tão ligados à
universidade quanto os que são, por causa dela, assalariados, de carteira
assinada, concursados. Também passei num concurso: o vestibular! Meu contrato,
minha matrícula. Meu tempo de serviço, minha graduação. Preciso dizer que temos
colegas de trabalho na universidade? Ou de trabalhos? Assalariados certamente
também oriunda de sal... Derivações prefixais e sufixais: metafóricas!
Mas os
trabalhos visam um produto. O produto é a revista. O transporte da maioria dos
exemplares tem sido feito, pelo menos até momento, com o andar de membros,
desde a gráfica até a entrega. Isso não é motivo para que o esforço seja valorizado.
É mais importante, suponho, ser uma atividade cuja motivação espera por ser compreendida.
Penso que
estamos dando um bom destino ao dinheiro público publicando (mesma raiz
etimológica! ― e rima também) a Graduando. Não somos "a menina que roubava
livros" do "livreiro de Cabul", mas, dentro de nossa proposta (e público leitor),
somos bem vistos enquanto publicação. Também estamos carregando a revista pelas
veredas de outros grandes sertões. Serão os sertões maiores do que as veredas ou
as veredas maiores do que os sertões? Por enquanto, apenas carregamos, damos os
passos e pensamos. E, claro, escrevemos também.
*Danilo Cerqueira é graduado em
Letras Vernáculas pela UEFS, aluno do mestrado em estudos literários, também na
UEFS, e integra o Conselho Editorial da Revista Graduando.
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