Por LILIAN MARIA*
Uma me promete tudo:
Tudo não me preenche.
Outra não promete nada,
E nada me convida a ser.
Contemplo o silêncio, o outro, os sinais.
No silêncio te escuto,
No outro te vejo,
Nos sinais, ah, nos sinais me chamas.
* LILIAN MARIA é graduanda em Letras com Espanhol na UEFS e cursa o primeiro semestre.
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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016
terça-feira, 16 de fevereiro de 2016
PELOS OLHOS DE PERO VAZ DE CAMINHA – UM BRASIL
Por Maria Rosane Vale Noronha Desidério*
Quando Pedro Álvares Cabral e sua comitiva atracaram, no ano de 1500, em terras americanas, desconheciam o seu verdadeiro paradeiro, mas estavam a ponto de marcar definitivamente o destino de uma terra até então quase desconhecida. Era o começo do fim de muitos povos, línguas e culturas indígenas. A comitiva de Cabral havia perdido a oportunidade de encontrar um caminho para as índias por meio do atlântico, mas “achado” uma mina fabulosa de riquezas naturais para abastecer os cofres públicos de Portugal em tempos de apertos futuros.
As primeiras impressões dessa “descoberta” estão registradas na carta que Pero Vaz de Caminha escreveu à coroa portuguesa, relatando aquele achado. O Brasil ganhava ali, segundo Stegagno-Picchio (1997), o seu “Atestado de Nascimento”. Para o escrivão da comitiva, aquela terra soava fantástica, rica em belezas naturais. Praticamente uma extensão do jardim do éden. Mas não só a natureza era extraordinária e exótica, também os habitantes da terra batizada de Vera Cruz. Estes eram em tudo “inocentes e gentis”. Seres beirando a animalidade, mas que estavam prontos para receber de mentores “sábios e capazes” toda a instrução necessária para se tornarem homens de fé, católica, naturalmente.
Pero Vaz não consegue enxergar naquelas figuras humanas nenhuma malícia, nem sua riqueza cultural. Os indígenas eram para ele uma folha em branco, necessitados de receber da coroa portuguesa a cultura e a fé que lhes faltava. Cobrir a nudez dos índios, não só corporal, mas principalmente espiritual e cultural, era para Caminha uma missão da coroa portuguesa. A imagem dos portugueses cobrindo os índios que dormiam na nau do capitão é carregada de simbolismo. O pano português desejou cobrir os índios com a cultura, a religião e as mãos poderosas da coroa lusitana. Dominá-los. Esse é o grande simbolismo por traz desse pano. O domínio.
Caminha busca em toda a carta mostrar à coroa portuguesa o quanto é fácil conquistar aquela terra e sua gente. As palavras “gentis” e “inocentes”, na carta, ao mostrar o quanto aquele povo era solícito e aberto, levam a crer que os indígenas não ofereceriam nenhum tipo de resistência diante de uma possível colonização. Eles estavam despidos, e os portugueses, em um ato humano e paternal, tinham o dever de vesti-los. O único impedimento parecia ser a comunicação verbal, mas, driblada essa dificuldade inicial, nada poderia impedir os braços paternais de Portugal a conduzir aquele povo à servidão e à submissão para o seu benfeitor. E de preferência uma submissão banhada a ouro da nova terra. Os lusitanos trocariam tal metal por algumas facas e outras coisas de menos valia. Os próprios índios carregariam os navios com o ouro e demais riquezas encontradas, enchendo assim os cofres de Portugal. Esse fora certamente um desejo acalentado no coração português. Desejo realizado tempos depois, principalmente pelas mãos dos negros escravizados da África.
Essa é a grande mensagem da carta de Caminha: A terra é boa, o povo é bruto, bárbaro e não oferece nenhuma resistência. Gostam de folgar e dançar. Trocam suas riquezas por qualquer coisa que lhes ofereça. Nos servirão de bom grado. Em troca, preencheremos o seu vazio intelectual e cultural. Seremos seus mentores, seus líderes, seus donos.
Essa ideia leva muitos a crerem que o índio nunca resistiu. Que este jamais ofereceu resistência ao pano português, cobrindo-os com o poderio lusitano. Mas, na realidade, a história foi contada sempre camuflando ou amenizando a luta e a resistência indígenas. Ao contrário do que Caminha disse, o Índio não era uma tábua rasa e inocente. E não baixou as flechas perante a dominação portuguesa. A Confederação dos Tamoios é apenas um exemplo dessa luta. Mas, notadamente, é difícil à flecha, ainda que imbuída de muita coragem, vencer a arma de fogo. E a prova maior dessa resistência aborígene está nos números que revelam um verdadeiro massacre, levando ao quase desaparecimento dos povos indígenas brasileiros.
A carta de Caminha alcançou um poder de convencimento tão grande, ela tornou-se tão poderosa que até os dias atuais ouve-se o eco de suas palavras na mentalidade do outro estrangeiro e do próprio brasileiro quando se deseja definir o Brasil. Afinal, o que há de bom no Brasil? A resposta a essa pergunta é rápida. O Brasil tem uma riqueza natural maravilhosa e um povo gentil e hospitaleiro. Nada sobre nossa capacidade intelectual. O mundo ainda nos lê pela velha carta de Caminha.
Referências
PEREIRA, P. R. Os três únicos testemunhos do descobrimento do Brasil. Rio de Janeiro: Lacenda, 1999.
STEGAGNO-PICCHIO, L. História da literatura brasileira. Rio de Janeiro: Nova Aguilan, 1997.
* Maria Rosane Vale Noronha Desidério é aluna do curso Letras Vernáculas - 7º semestre - UEFS.
Quando Pedro Álvares Cabral e sua comitiva atracaram, no ano de 1500, em terras americanas, desconheciam o seu verdadeiro paradeiro, mas estavam a ponto de marcar definitivamente o destino de uma terra até então quase desconhecida. Era o começo do fim de muitos povos, línguas e culturas indígenas. A comitiva de Cabral havia perdido a oportunidade de encontrar um caminho para as índias por meio do atlântico, mas “achado” uma mina fabulosa de riquezas naturais para abastecer os cofres públicos de Portugal em tempos de apertos futuros.
As primeiras impressões dessa “descoberta” estão registradas na carta que Pero Vaz de Caminha escreveu à coroa portuguesa, relatando aquele achado. O Brasil ganhava ali, segundo Stegagno-Picchio (1997), o seu “Atestado de Nascimento”. Para o escrivão da comitiva, aquela terra soava fantástica, rica em belezas naturais. Praticamente uma extensão do jardim do éden. Mas não só a natureza era extraordinária e exótica, também os habitantes da terra batizada de Vera Cruz. Estes eram em tudo “inocentes e gentis”. Seres beirando a animalidade, mas que estavam prontos para receber de mentores “sábios e capazes” toda a instrução necessária para se tornarem homens de fé, católica, naturalmente.
Pero Vaz não consegue enxergar naquelas figuras humanas nenhuma malícia, nem sua riqueza cultural. Os indígenas eram para ele uma folha em branco, necessitados de receber da coroa portuguesa a cultura e a fé que lhes faltava. Cobrir a nudez dos índios, não só corporal, mas principalmente espiritual e cultural, era para Caminha uma missão da coroa portuguesa. A imagem dos portugueses cobrindo os índios que dormiam na nau do capitão é carregada de simbolismo. O pano português desejou cobrir os índios com a cultura, a religião e as mãos poderosas da coroa lusitana. Dominá-los. Esse é o grande simbolismo por traz desse pano. O domínio.
Caminha busca em toda a carta mostrar à coroa portuguesa o quanto é fácil conquistar aquela terra e sua gente. As palavras “gentis” e “inocentes”, na carta, ao mostrar o quanto aquele povo era solícito e aberto, levam a crer que os indígenas não ofereceriam nenhum tipo de resistência diante de uma possível colonização. Eles estavam despidos, e os portugueses, em um ato humano e paternal, tinham o dever de vesti-los. O único impedimento parecia ser a comunicação verbal, mas, driblada essa dificuldade inicial, nada poderia impedir os braços paternais de Portugal a conduzir aquele povo à servidão e à submissão para o seu benfeitor. E de preferência uma submissão banhada a ouro da nova terra. Os lusitanos trocariam tal metal por algumas facas e outras coisas de menos valia. Os próprios índios carregariam os navios com o ouro e demais riquezas encontradas, enchendo assim os cofres de Portugal. Esse fora certamente um desejo acalentado no coração português. Desejo realizado tempos depois, principalmente pelas mãos dos negros escravizados da África.
Essa é a grande mensagem da carta de Caminha: A terra é boa, o povo é bruto, bárbaro e não oferece nenhuma resistência. Gostam de folgar e dançar. Trocam suas riquezas por qualquer coisa que lhes ofereça. Nos servirão de bom grado. Em troca, preencheremos o seu vazio intelectual e cultural. Seremos seus mentores, seus líderes, seus donos.
Essa ideia leva muitos a crerem que o índio nunca resistiu. Que este jamais ofereceu resistência ao pano português, cobrindo-os com o poderio lusitano. Mas, na realidade, a história foi contada sempre camuflando ou amenizando a luta e a resistência indígenas. Ao contrário do que Caminha disse, o Índio não era uma tábua rasa e inocente. E não baixou as flechas perante a dominação portuguesa. A Confederação dos Tamoios é apenas um exemplo dessa luta. Mas, notadamente, é difícil à flecha, ainda que imbuída de muita coragem, vencer a arma de fogo. E a prova maior dessa resistência aborígene está nos números que revelam um verdadeiro massacre, levando ao quase desaparecimento dos povos indígenas brasileiros.
A carta de Caminha alcançou um poder de convencimento tão grande, ela tornou-se tão poderosa que até os dias atuais ouve-se o eco de suas palavras na mentalidade do outro estrangeiro e do próprio brasileiro quando se deseja definir o Brasil. Afinal, o que há de bom no Brasil? A resposta a essa pergunta é rápida. O Brasil tem uma riqueza natural maravilhosa e um povo gentil e hospitaleiro. Nada sobre nossa capacidade intelectual. O mundo ainda nos lê pela velha carta de Caminha.
Referências
PEREIRA, P. R. Os três únicos testemunhos do descobrimento do Brasil. Rio de Janeiro: Lacenda, 1999.
STEGAGNO-PICCHIO, L. História da literatura brasileira. Rio de Janeiro: Nova Aguilan, 1997.
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