Hoje
postamos um texto relacionando a aquisição da identificação da revista como
identificação do próprio curso com ela e um trecho de filme.
Por Danilo Cerqueira*
Últimos dias de setembro, 2010. As
passagens de sala que fizemos em alguns semestres do curso de Letras para,
dentre outras coisas, arrecadar dinheiro para adquirir o ISSN, fizeram pensar
sobre como e porque pusemos essa ideia em prática. Por que pedir dinheiro para
pagar a identificação dada ao nosso periódico? Identificação... Talvez essa
palavra possa ser explorada em diversos contextos e argumentações.
Segundo o Instituto Brasileiro de
Informação, Ciência e Tecnologia (IBICT) o ISSN é “o identificador aceito
internacionalmente para individualizar o título de uma publicação seriada,
tornando-o único e definitivo”. Essa é a definição
clássica do Número Internacional Normalizado para Publicações Seriadas
(detalhe: a sigla representa um nome em inglês, International Standard Serial
Number). Analogamente, podemos dizer que este número, com status de documento, é a “carteira de identidade” de um periódico.
No caso da Graduando, em função de termos apenas produções textuais acadêmicas
dos estudantes de Letras da UEFS, poderíamos ainda afirmar: ele torna
identificável internacionalmente o nosso curso. Assim, ele valora o ― nosso ― periódico
enquanto produção acadêmica feirense (institucionalmente, claro, porque os
autores, coautores, orientadores, comissários, conselheiros e colaboradores são
de diversos lugares, nascidos fora da Bahia e até do Brasil). No entanto, ainda
temos outra ideia de valor: a monetária. Esta, por incrível que pareça, não
está tão distante da primeira.
A ajuda dos estudantes foi mais do que
suficiente. Arrecadamos o dinheiro necessário, mesmo sem passar em todas as
turmas do curso ― não foi por isso que as passagens pararam naquele semestre. A
visita (termo mais apropriado do que passagem) aos nossos colegas foi motivada
pela ideia de que o sentimento de participação do curso em relação à revista
seria maior se houvesse uma doação ― ínfima, para alguns ― em dinheiro. Se
metade do curso (mais de 350 estudantes), por exemplo, contribuísse com R$ 0,25,
conseguiríamos pagar as taxas referentes às aquisições do ISSN (das edições
virtual e impressa) sem dificuldades. Menos da metade do curso foi consultada sobre
a doação, professores e futuros professores ajudaram... E nós conseguimos a
quantia necessária! Essa forma de adesão dos nossos colegas à revista, após
alguns meses de apresentada à comunidade acadêmica da UEFS (abril de 2010),
ajudou a colocar a identificação já no primeiro número impresso, lançado no dia
2 de dezembro do mesmo ano. 25 centavos... Graduando... Uma palavra, algumas
moedas, identificação. A passagem/visita para motivar a existência de uma
revista (ou texto) que tem tantos valores quanto pessoas que o podem ver e ler
pode ir além da própria fala ou escrita.
Uma cena do filme Antes do amanhecer (1995) retrata, dentre os muitos acasos de um
jovem casal que acaba de se conhecer, o ínfimo pagamento deles a um poeta, para
que este escreva um poema com a palavra “Milkshake”. Pelo perfil do artista, o
destino das moedas seria pagar o prazer instantâneo de uma bebida ou fumo (bem
diferente do nosso International Standard Serial Number, “único e definitivo”)... Francamente,
o tal poema não vale nem a atenção do casal, quanto mais o dinheiro (!)... As
impressões têm a consequência de enganar.
De acordo com a LEI n° 10.994 (14/12/2004),
um exemplar de todas as publicações brasileiras deverá ser encaminhado à
Fundação Biblioteca Nacional, com o objetivo principal de assegurar a coleta, a
guarda e a difusão da produção intelectual brasileira, visando à preservação e
formação da Coleção Memória Nacional. Pagar por um escrito que representa esses
momentos, algo para o “encontro” entre duas pessoas ― ou mais de 700 ― é,
talvez, a esperança de que ideias comuns ou sentimentos iguais (ou que se quer semelhantes)
se identifiquem em torno de uma palavra que une o conhecimento e a ação, a produção
de saber que, se em um caso emociona, em outro pode co-mover. Voltaremos ao
nosso lugar, para escrever mais, para co-laborar mais.
Encarte de Antes do Amanhecer (1995. Dir. Richard Linklater) |
* Danilo Cerqueira é licenciado em Letras Vernáculas e cursa o mestrado em Literatura e Diversidade Cultural, ambos na Uefs, e integra o conselho editorial da Graduando.